Candido Portinari – O Homem por trás da Obra

Cidadania Sustentavel - Por José Roberto Abramo

01/06/2021

Por José Roberto Abramo*

Neste artigo pesquiso com base no Projeto Portinari, desenvolvido e mantido há 42 anos por João Candido Portinari Portinari, filho de Candido Portinari e curador de sua obra. Ao final deste artigo, deixo o link da entrevista que eu, José Roberto e Wanessa Bittar no Programa Pontuando, sobre Cidadania e Sustentabilidade, onde se inscreve o trabalho de Portinari, sobre o meio ambiente, e também aproveitando que a cidade de Juiuz de Fora faz neste 31 de Maio de 2021 , 171 anos de fundação e nela temos 2 obras de Candido Portinari, que mencionaremos mais à fente.

Candido Portinari tem raiz na Itália. Uma parte da família dos Portinaris, que no norte da Itália residia em Chiampo, província de Vicenza, chegou ao Brasil em 1894, tendo desembarcado no Rio de Janeiro, seguindo para Juiz de Fora, e depois para a Fazenda Visconde do Parnaíba, município de Jardinópolis onde esteve um ano em cada lugar. Em 1896, estabeleceram-se, como colonos, na Fazenda Santa Rosa, em Brodowski,  Pelegrina, avó paterna de Candido, já viúva de seu avô, e seus filhos, Giovan Baptista, Bepe, Angela, Catarina, Rosina e Luiza.

Portinari sempre esteve próximo de suas origens, estas viviam latentes em si e emergiam sempre. Ele conservou a sua identidade ítalo-brasileira, e nesta origem a religiosidade e o humanismo, cujas leituras destes universos, Portinari sempre traduzia pelo seu gênio.

Estas características, a fusão da matriz italiana com a raiz brasileira, contribuíram para dar um destaque à expressão de Portinari no panorama artístico brasileiro. Assim, no que se complementam, refletem-se nos personagens escolhidos para protagonizar suas pinturas, seus painéis, sua poesia, o que evidencia o propósito de sua mensagem. Portinari não fazia uso dos espelhos, por que não queria ver o seu reflexo, mas era todo externalidade, partido em muitos braços para a universalidade.

 

Foto registra Portinari com os familiares na casa dos pais em 1940, em Brodowski (SP) — Foto: Acervo Projeto Portinari

A tradição italiana o fez herdeiro da renascença, porque é evidente o diálogo com os mestres daquele importante marco histórico-artístico. Aqui se somavam a sensibilidade formada em séculos de história da arte italiana e as visões de um país que emergia, tropical, exuberante, aquele Brasil que o acolhia e lhe dava fomento.

Este então era, Candido Portinari, filho de Giovan Battista Portinari e Domenica Torquato? Sim, esse gênio da arte nasceu numa fazenda de café nas proximidades de Brodowski, interior de São Paulo. E sua vocação artística transpareceu em tenra infância.  Portinari, dos 15 para 16 anos, decidiu partir para o Rio de Janeiro e estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Era necessário aprimorar seus dons.

Escola Nacional Belas Artes

O perfil de Portinari como homem e artista configura um político, mas a serviço das causas humanas e sociais. E por isto seu trabalho foi eminentemente ético. Candidato foi à deputado e ao Senado. Comunista que se definia, sem contudo, permitir que a ideologia fechasse seus horizontes de assombro com o ser humano que via à sua frente, oprimido, as vezes exaltado em sua religiosidade, apartado de seu meio, retirante, sofrido, mestiço e genuíno, trouxe a obra de Portinari uma profunda humanidade. Este homem passa a ser a representação de todo o humano visível.

Assim, o pintor conseguiu absorver existência de homens e seus meios de subsistência, suas relações religiosas e com o meio, também com plantas e animais.  Daí transformar em uma arte genuinamente brasileira toda a leitura que fez desta brasilidade. Sua obra foi singular e de uma pessoalidade marcante. Nela se fundiram influências, mas não leituras. Quem puder leia a arte de Portinari, copia-la, impossível.

Ainda que Portinari navegasse no bojo das vanguardas artísticas que despontaram na Europa que transitava entre o século XIX e XX, mas a verdadeira inspiração de Portinari foi a sua leitura da vida, do ambiente, da história e da história do homem, de sua terra, e de seu ambiente imediato. Por assim dizer, sua arte foi curva. Ela perpassou a esfericidade deste mundo. Chegou a ser hiperbólica ao majorar os detalhes onde haviam mensagens de sofrimento ou angústia. A partir desta visão, Portinari passa a pertencer ao horizonte da universalidade. Já não se amarram aos seus atos um destino, um feudo, um fundo, uma matiz, uma ideologia, um ser, uma ciência. Tudo é universo. Sua arte Flui…..

Lavrador de Café

O caráter social adquirido pela pintura na década de 1930 não pode ser confinado apenas alguns países: o realismo social é uma constante na arte do continente americano, podendo ser aventada a hipótese de que a arte social representa uma tomada de consciência estética e política dos países do Novo Mundo em oposição ao experimentalismo das vanguardas europeias. Candido Portinari então está na vanguarda deste movimento e o faz de forma espontânea porque aquilo é hábito em seu espírito.

Portinari foi dotado de um imenso amor pelo Brasil.  “Nenhum pintor pintou mais um País do que Portinari pintou o seu…” diz nos Israel Pedrosa. Israel Pedrosa foi aluno de Candido Portinari, também pintor foi professor na Universidade Federal Fluminense.

O Morro (1933)

Consta na Wikipedia o texto que esclarece sua personalidade como artista e humanista:

“Seus temas sociais, históricos, religiosos, o trabalho no campo e na cidade, os tipos populares, a festa popular, a infância, o folclore, os retratos dos grandes brasileiros de sua geração, a fauna, a flora e a paisagem, demonstram com eloquência a reflexão de Israel Pedrosa. Inúmeras foram as suas influências. Suas pinturas se aproximam do renascimento italiano, do cubismo, surrealismo e dos pintores muralistas mexicanos. Foi um dos mais importantes representantes do Neo-Realismo, tendo influenciado inúmeros artistas deste movimento. Para compreender mais a fundo a importância de Portinari para a arte mundial, recomenda-se a leitura do texto magistral de Pedrosa, intitulado “Portinari, o Pintor do Novo Mundo”.

Um resumo do que se pode falar de Portinari a partir de seus contemporâneos e da análise de suas obras é que Candido Portinari retratava temas sociais, religiosos, históricos, festas populares, trabalho no campo e na cidade, paisagens, folclore, fauna e flora. Sua obra se aproximava do renascimento italiano, surrealismo e cubismo.

Flora e Fauna Brasileira (1934)

De suas obras, a mais prestigiada e de grande envergadura, que enfeixa o seu trabalho quando já não podia exercê-lo plenamente por questões de saúde, foi Guerra e Paz. Esta obra foi presenteada pelo governo brasileiro à ONU, em 1956. Aqui foram restaurados sob a guarda do Projeto Portinari, e assim voltam à sede da ONU, após cinco anos no Brasil e na França.

As telas Meninos e Piões e Favela são parte do acervo permanente da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. Seu maior acervo sacro, entre pinturas e afrescos, está exposto na Igreja Bom Jesus da Cana Verde, centro da cidade de Batatais, interior de São Paulo, situada a 16 quilômetros de sua cidade natal, Brodowski. São 23 obras, incluindo 2 retratos:

Portinari ousou ai em sua inspiração. A flora e a fauna nacionais aparecem estão contempladas, rasgadas em sua autenticidade e mais, exaltadas. Angelica Fabbri, museóloga e diretora do Museu Casa de Portinari diz nos que; “Uma infância vivida com os pés no chão, entre os amigos, pulando em rios, nadando em córregos, aventurando-se pelas matas e plantações. No convívio com os pássaros, com as plantas e a natureza, vivências que ficariam para sempre no coração do menino e seriam transportadas para a sua obra plástica e poética”.

Favela 1957

Seus biógrafos, amigos e os analistas de suas obras, são unânimes quanto à referência de suas obras: As referências naturais vêm da vida no interior de São Paulo ao lado de sua família de imigrantes italianos, na Fazenda Santa Rosa. Foi deste ambiente que ele retirou as lembranças mais coloridas da sua vivência. Nas telas ou nos poemas, dizeres como “o campo era sempre o nosso melhor refúgio” demonstram a conexão do artista com o ambiente natural.

“Belas eram as flores silvestres. Conhecíamos bem os pássaros, as formigas, as seriemas, as saracuras e os tatus. Quando víamos no chão um orifício, sabíamos a que bicho pertencia” — Retalhos de minha vida de infância (Candido Portinari).

“Minha infância embebe-se de miragens e impregnou-se de melancolia e sonhos”.

O meio ambiente foi bastante contemplado pela mão do artista. Porém é importante verificar que a principal mensagem do gênio se concentrou nas obras que que expressavam os flagrantes das realidades brasileiras, seja na dinâmica das vítimas da seca nordestina – exemplo o quadro “Retirantes”, ou mesmo na vida rural, tal como a obra “Lavrador de Café”. Mas a catalogação das cinco mil e quatrocentas obras de Candido Portinari pelo Projeto Portinari, 896 contemplam animais; em torno de 80 delas, flores; 654 contemplam paisagens e 22 plantas.

Mosaico Cavalos 1956 – Edificio Clube Juiz de Fora em Juiz de Fora

Angelica Fabbri enfatiza que: “Candido Portinari foi um profundo estudioso e conhecedor do Brasil e do povo brasileiro, em suas diferentes regiões e múltiplas riquezas naturais e culturais, que foram registradas pelo pintor em sua arte”, realça o fato de que “o artista valorizava a existência harmoniosa entre todos os seres que habitam o planeta, uma busca atemporal. Inclusive, a diversidade de espécies brasileiras e detalhes da natureza nativa se destacam nas composições de Candido Portinari”.

Se a paisagem e os elos nunca nos abandonam, o olhar de um artista sobre a natureza e o mundo que o cerca, é igualmente perene. Saber retratar o ambiente pode, ainda, modificar a forma com que a humanidade se relaciona com o meio. E esta mensagem não se restringe à visão de brasileiros. Isto está exposto para o mundo. Daí o universalismo de sua obra que o destaca entre os artistas brasileiros como uma vanguarda que cria raízes e prospera porque serve de exemplo e marco historiográfico.

“Nessa perspectiva, o papel social da arte de Portinari é relevante e contribui para reflexões que estimulem transformações pessoais e coletivas na direção do exercício da cidadania plena”, define a museóloga e diretora do Museu Casa de Portinari, Angélica Fabbri.

Via Sacra

Assim, Candido Portinari foi um pintor do século XX reconhecido mundialmente. Ele representou o povo brasileiro e a brasilidade em uma busca de uma identidade nacional. Portinari mostra pelo todo de sua obra que existe e existiu um Brasil de dimensões continentais, vasto em sua cultura profunda, diversificado, que permeou influências de outros povos, e que somou tudo isto para se edificar. Quem fez esta leitura, não foi um artista para seu deleite, mas alguém que quer historiar um povo. E que se irmana com ele tão completamente que só o abandona em sua partida para outro plano da existência.

Candido Portinari é um dos maiores expoentes da arte brasileira. Sua obra é ao mesmo tempo singular, ao retratar as mazelas sociais brasileiras, e universal, ao retratar o sofrimento humano. E por falar em artista universal, Portinari também se irmana ao ser humano de qualquer nacionalidade, de qualquer época e dimensão humana, não fora sua obra “Guerra e Paz” presenteada à ONU, numa referência explicita à superação da infelicidade do homem naquele século e nos que se passaram.

Portinari é considerado um dos grandes nomes da pintura no Brasil. Ao lado de artistas, jornalistas e diplomatas, ele participou da elite intelectual brasileira, propondo mudanças estéticas na cultura do país por meio do movimento modernista, atuando na geração de 1930.

Capela de Candido Portinari

E isto é reconhecido em seu tempo pelo que seus contemporâneos que falam dele:

“Candido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros -camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem- são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura.”

Jorge Amado

 

“Você é a alegria e a honra do nosso tempo e da nossa geração. Não sei se saberia dizer-lhe isso pessoalmente, mas encho-me de coragem nesta carta para exprimir uma convicção que é de todos os seus companheiros, os quais se sentem elevados e explicados na sua obra. Sim, meu caro Candinho, foi em você que conseguimos a nossa expressão mais universal, e não apenas pela ressonância, mas pela natureza mesma de seu gênio criador, que, ainda que permanecesse ignorado ou negado, nos salvaria para o futuro.”

Carlos Drummond de Andrade

 

“Homem estranho, Portinari, homem de enorme exigência com a sua criação, indiferente ao gosto dos outros, capaz de gastar anos enriquecendo uma tela, descobrindo hoje um pormenor razoável, suprimindo-o amanhã, severo, impiedoso. Dessa produção contínua e contínua destruição ficou o essencial, o que lhe pareceu essencial. Não é arte fácil; teve um longo caminho duro, impôs-se a custo nestes infelizes dias de logro e charlatanismo de poemas feitos em cinco minutos. E até nos espanta que artista assim, tão indisposto a transigências, haja alcançado em vida uma consagração.”

Graciliano Ramos

 

“Vi então avançar para mim um rapaz baixo, claro, com olhos pequeninos de grande mobilidade, capazes de crescer luminosos de confiança e lealdade, como de diminuir, com um ar de ironia ou desconfiança. Era Candido Portinari, e desde então ficamos amigos. Minha vaidade é a de ter sido dos primeiros a descobrir o valor deste grande artista. Sua obra, ainda que muito cuidada, procurada na técnica e pouco afirmativa, obtinha então um respeito passivo e silencioso, mais que uma verdadeira admiração.”

Mário de Andrade

E o historiador de arte Clarival do Prado Valladares teve oportunidade de dizer sobre ele: “Portinari participou da elite intelectual brasileira, junto aos mais celebrados poetas, escritores, arquitetos, músicos, políticos, educadores e jornalistas, no período exato em que todos eles provocavam uma notável mudança na atitude estética e na cultura dos principais centros do país.”

Clarival do Prado Valladares

 

Paisagem com Mar 1934

Candido Portinari retratou vários poetas brasileiros, o que fez com que Carlos Drumond de Andrade achasse sua obra mais próxima dos poetas do que dos pintores.

Portinari fez mais de 200 ilustrações em livros no Brasil e no exterior.

Candido Portinari fez inúmeros painéis pelo mundo afora.

A cidade de Juiz de Fora foi agraciada com 2 obras de Portinari.

Vista do Painel 4 Estações                                                Vista Frontal do mesmo Painel

Mosicos dos Cavalos de Portinari na lateral do Edifício Clube Juiz de Fora

O painel as “Quatro Estações” e o Painel “Cavalos”, ficam na fachada do edifício modernista do Clube Juiz de Fora, e são obras do renomado artista Cândido Portinari.

Os Painéis foram adquiridos em 1956. O painel as “Quatro Estações” mede 10 metros de comprimento por 4 metros de altura. Os azulejos foram produzidos pela empresa Osiarte de São Paulo-SP.

O Painel “Cavalos” é feito de pastilhas, e ocupa os 10 andares da fachada lateral do prédio, autoria de Portinari com colaboração de José Moraes e Paulo Fonseca especialistas na execução.

Existem 14 painéis de Portinari espalhados por todo o país em local público e Juiz de Fora é a única cidade a possuir dois deles.

Localizados no Edifício Clube Juiz de Fora, na rua Halfeld – Centro.

Algumas das principais características de suas produções a seguir:

A Expressividade: Na obra de Portinari existe movimento. As pessoas e os corpos são extremados em expressão. Chegam a ser estilizados para vencer a barreira do anonimato e dizer de suas dores pessoais ou de grupos. Quem olha sua obra sabe o que ele viu. Os movimentos percebidos são nas atividades do dia-a-dia.

Portinari gostava de tons cinzas e terrosos, o que significa, não por acaso, que a terra e outros elementos da natureza estão presentes em muitas obras. Até porque em sua infância o que mais o ilustrou foi o retrato de sua natureza e do ambiente onde viva no inteiro da Fazenda em São Paulo.

Como já definimos acima, Portinari expõe em suas obras temas épicos e históricos da nacionalidade, o povo e a cultura brasileira, a fauna e a flora.

A realidade social brasileira está enfatizada, exaltada no papel dos trabalhadores. Mas também o desespero e o medo gerados pela guerra em contexto mundial.

Quanto às lembranças da infância, Portinari usa cores claras e mais vibrantes, os semblantes falam da ternura e crianças brincando é uma extensão do seu lirismo em suas obras.

Os temas religiosos são um ponto alto da obra do artista de tal forma que é considerado um dos maiores pintores de temas sacros. Não que a religiosidade dele contasse, mas a do meio que ele respirava.

Influências

Nereide Santa Rosa, em seu livro Candido Portinari da coleção Mestres das Artes no Brasil traz que Portinari conheceu obras de vários artistas como as do pintor Giotto, que ele também apreciava Matisse que usava cores puras. Admirava Emil Nolde, o alemão e o italiano Amedeo Modigliani.  Ela também relata que as técnicas de Van Gogh  o impressionaram de tal forma que foram por ele esmiuçadas.

Portinari sofreu influência do Cubismo do Surrealismo e dos Pintores Renascentistas.

Do trabalho de investigação de Nereide Santa Rosa, ainda colhemos que Portinari teve grande influência de Picasso, opinando que após Portinari “ler” Guernica, vem a chocar seu público com os santos e pessoas com expressão sofrida, angustiados pelos problemas humanos.

Nereide traz que sua pintura torna-se ao longo dos anos, porque “o conteúdo espiritual de uma quadro registra a potência de sensibilidade do artista” , sua pintura torna-se sem regras, sem formas regulares, porque o centro de sua preocupação era o HOMEM.

Assim na obra Lavrador de Café, Portinari retrata a força, o movimento, o desafio e o corpo do lavrador nos tons que utiliza, parecem liga-lo à terra, como parte inexorável dela. Os pés fincados à terra sugerem a busca de territoriedade e conquista.

Nos murais de Portinari estavam presentes os temas sociais, como forma de arte social, porque Portinari entendia que o muro pertence à coletividade, e a história é coletiva em sua construção. E é bom que se veja retratada.

O afresco do prédio do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, estão os ciclos econômicos. Assim, perpassa o pau-brasil, a cana de açúcar, o gado, o ouro, o fumo, o algodão, a erva-mate, o café, o cacau, o ferro, a carnaúba e a borracha.

As séries Bíblica e Retirantes são obras que abrangem o período em que a denúncia social marcou a pintura do artista, que reflete as calamidades da guerra, que não apenas Portinari, mas que sensibilizaram outros artistas europeus.

A série Bíblica foi executada entre 1942 e 1944 para a sede da Rádio Tupi de São Paulo a pedido de Assis Chateaubriand. São oito telas de grandes dimensões que ilustram passagens do Velho e do Novo Testamento. A série seguinte, Retirantes, foi produzida entre 1944 e 1945. Nestas séries a pintura de Portinari tem influência pintores de murais expressionistas mexicanos Orozco e Siqueiros.  Estas foram exemplos também de uma arte engajada. Se identificavam com uma vanguarda política e estética.

Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, iniciou as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), destacando-se o mural “São Francisco” e a “Via Sacra”, na Igreja da Pampulha.

Na série Retirantes Portinari atinge o auge de sua emoção, posto que resgata imagens que pertenciam à sua infância, no encontro que teria tido com famílias pobres e desabrigadas que passavam pela sua cidade natal.

Ao final da década de 40, Portinari retoma os murais agora expressando as obras onde ele deita o olhar sobre fatos históricos do Brasil.

A primeira Missa apresenta características geométricas, com retas paralelas e diagonais. O painel Tiradentes é uma pintura a têmpera (tinta artesanal) composta por três telas justapostas, apresentando cinco cenas. É representação dos episódios e dos protagonistas principais da Inconfidência Mineira, especialmente da figura do suplício e da exaltação de Tiradentes.

Primeira Missa de Portinari

Em 1950, Portinari compõe a Coluna Prestes. Este painel não representa exatamente um momento histórico tradicionalmente. Israel Pedrosa, diz: “Esta pintura traz à memória as primeiras obras do artista em que o artista elabora a assimilação dos primitivos italianos, estilo que possuía adeptos que não se importavam muito para o refinamento da arte, produziam obras simples e de visão rústica”.

Em 1952, atendendo a encomenda do Banco da Bahia, realizou outro painel com temática histórica, “A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia. É uma composição de colorido vibrante “veneziano”, e que neste caso trata-se de um cortejo em celebração.

Por fim, Guerra e Paz, painéis concebidos para a sede da ONU em Nova York. Israel Pedrosa diz que buscam a interpretação da guerra e da paz a partir de elementos narrativos alegóricos.  A guerra para Cândido, retratada em cores frias, não se resume a campos de batalha, ela é representada “pelo sofrimento do povo e não por soldados de combate”. A Paz é a esperança, alegria e aconchego.

Painel Guerra e Paz

Na avaliação do artista Enrico Bianco, “Guerra e Paz” são as duas grandes páginas da emocionante comunicação que o pintor entrega à humanidade.

Portinari deixa sua arte para este mundo como herança bendita e benfazeja, e principalmente para o país que acolheu sua genialidade. O custo de vocação foi uma doença ligada ao envenenamento pelos materiais pesados das tintas. E assim ela nos abandona em 1962, aos 58 anos. Uma lástima sua partida tão cedo.

Neste breve artigo eu quis falar um pouco da vida e da obra de Candido Portinari. Espero ter conseguido aguçar a curiosidade de todos quanto à vida e à obra de Portinari.

Autor do Artigo; José Roberto Abramo* – Engenheiro, Professor, Empresário de Mídia, desenvolve trabalhos de vídeo Youtube no TMTV – Tribuna de Minas – Programa Pontuando , no canal do próprio, articulista e proprietário do portal vaiali.com – desnvolve os podcasts Musical Box e Rock Legend também no portal vaiali.com

Link do PROGRAMA PONTUANDO no canal de José Roberto Abramo

Programa Pontuando#52 Arte de Candido Portinari e o Meio Ambiente Ambiente

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