Entre todas: as mudanças urbanas – que futuro queremos?

Fala, Zé! - Por José Roberto Abramo

27/06/2020

No contexto que vivemos atualmente, temos de analisar que muitas mudanças vão acontecer no planejamento das cidades e no modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil e pelo mundo. Ao longo da história percebemos que epidemias e pandemias têm sido marcos nas mudanças urbanas. No final do século XIX e início do século XX, mudanças tiveram lugar .

Lewis Munford em seu livro “A Cidade na História” analisa a metrópole moderna observando o desastre que a tecnologia assumia de forma arbitrárias nas cidades, entre elas a questões de acomodação da população de trabalhadores com crescimento exponencial, inclusive forçado pelo êxodo de trabalhadores de outros centros, e por isto a expansão do território urbano desordenado, a desfiguração da continuidade cultural das mesmas, a congestão, e por isso,  a escassez de água, de transporte e de terra urbana.

A diminuição da desigualdade socioeconômica se perpetua, quando acrescem os problemas sanitários. Observemos que a falta de acesso ao saneamento básico potencializa qualquer pandemia. Se necessário o investimento em abastecimento de água, sistema de esgoto e coleta de lixo como ações prioritárias, com ou sem pandemia.

Lazer

A criação de espaços de lazer para o cidadão, como os parques de vizinhança, modificou a estrutura urbana de muitas cidades na Europa e nos Estados Unidos, nos séculos anteriores, e foram criados com o objetivo de diminuir a insalubridade dos espaços urbanos. Mas, principalmente no final do século XX, na maioria das cidades médias e metrópoles brasileiras, os espaços livres públicos, como praças e parques, foram sendo substituídos por espaços fechados climatizados, como os shoppings centers, como o principal espaço de consumo e lazer. Na atualidade, face aos eventos associados à pandemia, a utilização destes espaços abertos, públicos ou privados tais como praças, parques, restaurantes, feiras, mercados, lojas, terá de ser tendência, e a principal mudança no cotidiano dos habitantes das metrópoles. Sem perder de vista a segurança pública, acessibilidade e mobilidade urbana.

 

O Ambiente Agradece

Outro fator importante diz respeito à natureza. Nesta pequena pausa que o isolamento social fez acontecer, a natureza conseguiu regenerações possíveis, mostrando que a luta é constante e foi impressionante, a diminuição do trânsito atenuou a poluição do ar em metrópoles e cidades médias, praias limpas, animais silvestres que aparecem nas cidades, lagos, lagoas e baias com água transparentes e peixes que reaparecem. A visibilidade a grandes distâncias, porque a poluição diminui , como a cordilheira do Himalaia, que passou a ser vista a 160 km de distância. Os canais de Veneza, na Itália, apresentaram coloração da água mais clara e nítida sem turistas e barcos.  Diminuição de ações predatórias promovidas pela sociedade, como poluição de parques, praias, excesso de lixo, em ruas nas cidades. Tudo isto contribuiu com a regeneração rápida e possível do ambiente, infelizmente sem repercussões futuras porque é pouco diante da degradação já perpetrada e também, porque voltaremos em breve.

Então essa é uma oportunidade de ruptura no padrão de consumo, com a valorização do essencial para a realização da vida, como também uma possibilidade de mudança nos usos dos espaços das cidades, com a valorização do espaço livre público e do contato com o “meio natural”.

Outro fator que preocupa durante o isolamento é o abastecimento. Ficou evidente a importância de ações voltadas para um desenvolvimento local, com valorização do produtor, o que potencializa a promoção da sustentabilidade tanto no âmbito ambiental como econômico.

 

A Construção do Possível

Ao projetarmos o futuro, como se faz necessário diante dos quadros que se apresentam para o século XXI, nos deparamos com a urgência da pandemia e com aquilo que está no horizonte: se queremos que não sejamos sempre surpreendidos por pandemias, endemias e epidemias indesejáveis, temos de nos acercar daquilo que nos fará evitá-las. Será o que nosso estilo de vida somente é responsável pelo que padecemos? Provavelmente. Mas, será que outras causas estão em jogo disputando a realidade?

Qual futuro queremos? Ana Carolina Fonseca, especialista em economia criativa, negócios e cidades, nos diz que “é preciso atentar sobre qual espécie de futuro estamos falando: os prováveis, os possíveis, os viáveis ou os desejáveis”.  Mediante este pensamento temos de fazer diagnósticos de nossa realidade. Isto ficou urgente diante desta pandemia e vai piorar muito se tivermos outras.

No que toca ao Brasil, temo de trazê-lo para este século. O saneamento básico e a possibilidade de as pessoas terem acesso à tecnologia digital. Isto é importante porque tudo vai girar em torno disto.

Há imensas disparidades em termos de infraestrutura, moradia, transporte público, renda e possibilidade de acesso a recursos. “O transporte público fica lotado porque temos, de modo geral, nas cidades, em especial naquelas de porte médio e grande, segmentações e fluxos econômicos que não necessariamente são condizentes com os fluxos de desenvolvimento urbano. Então, algumas expansões urbanas não necessariamente são motivadas ou acompanhadas de expansões de oportunidades de emprego”, exemplifica Ana Carolina Fonseca.

 

A Economia Solidária

A Pandemia trouxe para nós uma clara visão de que dependemos muito mais do outro do que podíamos supor.

Muitas pessoas que precisam trabalhar não têm com quem deixar os filhos. E montam-se estruturas de ajudas mútuas que mais parecem as trocas de escambo do passado. No passado muitas comunidades levavam a efeito os mutirões para construções de casas uns dos outros, entre outros tipos de serviços.

As situações que sempre existiram nessas comunidades mais periféricas e que padecem de falta de recursos e empregos dignos forçaram à uma economia solidária e hoje em dia as chamadas economias colaborativas urbanas se mostraram presentes principalmente no momento do isolamento social, por força das mídias sociais, onde redes colaborativas se fortaleceram em busca de valorização do consumo de pequenas empresas, e de artesão e de comerciantes de bairro, mas também de serviços. A tendência é de fortalecimento destas redes locais para se pensar em uma cidade mais humanizada, estabelecendo relações sociais e interpessoais mais fortes.

Até para podermos nos fortalecer temos de pensar no outro. Ou seja, a mudança de hábitos requer que pensemos no outro. Se vc não quer se contaminar, seja exemplo, instrua, colabore, assista. Se você não quer criminalidade, faça trabalho social. Coloque crianças em lugar seguro. Ajude que todos sejam educados, tenham lazer.

Está havendo uma valorização do pequeno empreendimento, dos empreendimentos mais próximos das casas das pessoas. Ao invés de sair para um supermercado, valorizar o empreendimento do bairro. O pequeno produtor, seja em horta familiar. Coisa que antigamente se tinha em pequenas localidades. Assim se mantém a comunidade forte.

“Então, estamos num momento muito embrionário para discutir redesenhos de políticas públicas, em especial de mobilidade”.  É claro que as comunidades, as várias comunidades de uma metrópole e cidade de médio porte, tem de agir sobre suas representações para tornar estas políticas efetivas.

 

O Ambiente Interno e Externo ao Trabalho

Outro fator importante será o redesenho das empresas, permitindo maior conforto aos funcionários e o trabalho quando possível será virtualizado. Os espaços serão maiores para que se possa fazer frente ao retorno de pandemias, justamente para que haja mais espaço entre as pessoas e muito dos trabalhadores estarão em casa. Isto diminui o custo de transporte, além de operacionalizar melhor o transporte público diminuindo lotações. Além disto, conforme já o dissemos acima, menos poluição e menos custo energético.

Uma coisa importante e que vem sendo cada vez mais valorizada é a ventilação nos espaços, ou seja, não só a troca de filtros e a manutenção mais rigorosa dos aparelhos de ar-condicionado, mas medidas que possibilitem a ventilação e a circulação de ar nos ambientes de trabalho.

Uma coisa cada vez mais valorizada será a ventilação dos espaços. Trocas de filtros de ar condicionado, melhor manutenção para os ar condicionados centrais, e taxa menos de ocupação por volume de ventilação e circulação. A regulagem de temperatura também deve ser criteriosa para evitar que as pessoas fiquem gripadas.

Em resumo, ficamos com a necessidade de rediscutir espaços urbanos. Os bairros deverão ganhar mais autonomia, na trabalho local, lazer, saúde e educação, evitando grandes deslocamentos. Mudanças nos modelos de transportes e mais infraestrutura sanitária.

 

Assista o vídeo sobre o assunto

No contexto que vivemos atualmente, temos de analisar que muitas mudanças vão acontecer no planejamento das cidades e no modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil e pelo mundo.

 

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