Envelhecimento na atualidade

Pesquisas em Saúde - Por Vai Ali

15/05/2017

“Envelhecer é uma perda de tempo” José Roberto (sim não é uma citação e sim uma frase minha mesmo)

A uns tempos atrás eu cunhei esta frase e a postei no facebook. Ela foi bastante polemizada. Alguns defendiam a inexorabilidade de envelhecer, outros que não depende de nós esta perda, ou o fato de envelhecermos. Ao menos alguns disseram que se ocupar de envelhecer é se permitir, se tolher e desta forma é perda de tempo. Não discuti nenhum ponto de vista. Vamos lá, então:

“Envelhecer é uma perda de tempo”

Sem discutir o mérito porque no final das contas esta frase é um desabafo e eu nada pretendi de certo ou de errado, a não ser jogar um desafio cognitivo.

Estar velho, é perder o tempo que foi e o tanto que te separa da morte. Porquê?

Porque se você estiver ocupado de não poder usufruir da vida porque está velho, perde o tempo. Neste sentido não há o que fazer. O melhor é continuar a viver.

Mas nós seres humanos  temos uma sensação de que somos imortais. Ao menos nossa sociedade de hoje não trabalha bem a ideia de que somos finitos. E ninguém sabe sua hora.

A Ciência tem se ocupado disto. Eu não estou dizendo que a Ciência quer se ocupar de dar qualidade de vida a nós, seres humanos, apenas. Ela quer verificar se é possível não morrer. Ela quer verificar se temos em nós o germe da imortalidade. Está descobrindo que não.

Mas porque ela persegue este afã?

Quão penoso é o fim do ancião!

Vai dia a dia enfraquecendo:a visão baixa, seus ouvidos se tornam surdos, o nariz se obstrui e nada mais pode cheirar, a boca se torna silenciosa e já não fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem e torna-se impossível recordar o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. A ocupação a que outrora se entregara com prazer, só a realiza agora com dificuldade e desaparece o sentido do gosto. A velhice é a pior desgraça que pode acontecera um homem. Ptah-Hotep (filosófo e poeta Egípcio) mostra a face cruel do processo de envelhecimento…/ (Beauvoir, 1990, p.114).

Esta é a imagem bastante atual do processo de envelhecimento que a grossa maioria espera para si e para os outros.

Esta é a motivação de não apenas criar uma condição de longevidade, a maior possível. E trabalhar a qualidade de vida.

Mas porque envelhecemos?

O que dita a regra do envelhecimento, se sempre replicamos nossas células? 

“Existem diversas teorias sobre o envelhecimento. Duas das mais interessantes envolvem o DNA. Vale lembrar que o DNA está presente no núcleo das células (onde se organiza na forma de cromossomos), mas que também existe uma pequena molécula de DNA no interior de cada mitocôndria”. Prof. Guilherme G. Artioli, PhD

Ter uma genética boa é, por pressuposto, o fator biológico mais associado à longevidade. Experimentos com manipulação genética em organismos como leveduras, moscas, germes e alguns casos até mamíferos conseguiram estender o tempo de vida dos mesmos. Então já podemos mais ou menos seguramente garantir que estudando nossa genética, teríamos chance de aumentar nosso tempo de vida e evitar as perdas de qualidade de vida ao envelhecer.

Portanto a senescência é um processo dotado de “certa plasticidade”, e portanto, em certa medida, controlável. Assim, a Ciência deve buscar nos organismos longevos mecanismos celulares e moleculares associados a uma boa velhice.

A corrente majoritária de biólogos e bioquímicos trabalha com a ideia de que organismos vão envelhecer, com o tempo, à medida que perdem a capacidade de desempenhar funções, definham e morrem mais depressa do que conseguem ser repostas. Reações químicas no organismo, além de fenômenos ambientais vão causar lesões na molécula do DNA.  Então é possível combater o envelhecimento alterando mecanismos importantes que as células usam para reverter o acúmulo de danos. A célula responde a muitos problemas  simplesmente se matando. Em algum momento, os cientistas viram esse processo de suicídio celular, chamado apoptose, como prova de que o envelhecimento obedece a um programa genético. Este é um mecanismo de sobrevivência que protege o organismo contra células que poderiam causar danos, notavelmente algumas que se transformaram em malignas. A apoptose ocorre mais em órgãos velhos porque suas células sofreram mais danos. E assim mais perdas. Por isso o envelhecimento é basicamente perdas.

Por isso envelhecer é uma perda de tempo. Uma perda de timing de resposta. Dai que minha filosofia acabou sendo científica.

Os cromossomos são encurtados toda vez que uma célula é dividida. Isso ocorre porque a forma como o DNA é copiado , na divisão celular,  faz com que um pequeno pedaço de suas extremidades, os chamados telômeros, seja perdido. Atingindo um comprimento “crítico” de telômero, a célula se torna instável, perde sua capacidade proliferativa e morre.

O acúmulo de mutações no DNA mitocondrial que ocorre ao longo do tempo, é outra base do envelhecimento. As mitocôndrias são responsáveis por produzir energia para as células. O DNA mitocondrial é fundamental para a produção de proteínas essenciais para a produção de energia.  O acúmulo de mutações afeta a capacidade do DNA de produzir  proteínas, resultando em uma crise energética crônica nas células. Sendo que dentro das mitocôndrias, o oxigênio é o elemento base para a produção de energia. Quando o oxigênio é utilizado nesse processo, espécies reativas (os famosos radicais livres) são formadas. A mitocôndria é, portanto, um local de intensa produção de radicais livres. Esses elementos altamente reativos são capazes de “atacar” diversas moléculas, incluindo o DNA que está ali dentro da mitocôndria. As mitocôndrias se multiplicam dentro das células, dando origem a mitocôndrias filhas. Nesse processo, o DNA mitocondrial é copiado e transmitido às novas mitocôndrias.  A  mitocôndria mãe já apresenta danos e mutações em seu DNA. Acumulam-se danos que o DNA vai sofrer na proliferação.  Maior o número de mutações acumuladas, e pior será o funcionamento das mitocôndrias. As pessoas mais velhas não têm a mesma capacidade de produzir energia do que os jovens. Conclusão inevitável e facilmente observável em organismos mais velhos.

Mas, há algo  fazer?

Em animais sob dietas de restrição calórica verificou-se vidas mais alongadas. A restrição calórica melhora, segundo pesquisas, o funcionamento das mitocôndrias dos neurônios e as torna mais resistentes a estresses celulares como o aumento de cálcio e de radicais livres.

Combater o sedentarismo com dietas competentes (não pode fazer exercícios e restrição calórica inadequada), com prática regular de atividade física.

Bom, não sabemos ainda aonde estas pesquisas vão dar. Estudos desta natureza envolvem o trabalho de muitos profissionais. Com certeza em anos vindouros, técnicas e drogas, talvez sejam descobertas para nos livrar de doenças críticas da velhice ou mesmo daquelas crônicas e nos devolver o prazer de continuar vivendo com qualidade razoável e disposição para as aventuras da idade. O fato é que aonde há vida, há esperança. Ela só não pode estar desforme e apagada. Não pode é haver perda de tempo. Todo o tempo, é tempo e viver.

O grande momento de nossas vidas é o presente.

“Envelhecer ainda é a única maneira que se descobriu de viver muito tempo”.

Charles Saint-Beuve

Ficamos assim, até a próxima….

Caso queira, assista sobre alimentação e idade o vídeo abaixo do Dr. Lair Riberio. É interessante.

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