Flexibilidade Emocional e Resiliência

Pesquisas em Saúde - Por José Roberto Abramo

24/08/2021

por José Roberto Abramo*

O nosso assunto hoje é a Flexibilidade Emocional e a capacidade de ter Resiliência

O termo RESILIÊNCIA é roubado da física dos materiais. Quando um material sofre uma tensão ou abalo e é capaz de retornar ao seu estado anterior, ou quando suporta esforço sem sofrer ruptura, ou quando sofre tensões e não desanda ou ainda, quando verga mas não quebra, bom este material tem alta resiliência.

Porém, a resiliência roubada da física dos materiais é bem ajustada ao conceito de personalidades que podemos desenvolver, e alguns de nós o tem naturalmente. Existem pessoas que não se assustam com os abalos. Absorvem os trancos, param, pensam e arrumam um jeito, forças, energia para continuar. Fazem como a água, que contorna os osbstáculos e segue seu caminho, sem bater de frente ou bater cabeça. A vantagem da resiliência é que se você é capaz de fazer este ajuste, esse contorno, essa reestruturação na vida para enfrentar e continuar, você ganha muito conhecimento e sai desta mais forte. Mas, nem tudo é tão simples.

Portanto, estamos falando aqui, quando falamos de resiliência de uma qualidade que diz respeito à capacidade que permite que as pessoas se adaptem em condições adversas e se recuperem emocionalmente. E por isto, não é tão simples. As experiências tais como doenças físicas, problemas de saúde mental na família, perda de emprego, pobreza, e queda de padrão de vida repentino, racismo, violência, calamidades naturais, pandemias, além de outras coisas imprevisíveis, por serem às vezes fora de controle, ensinam, é certo lições. Lições que dizem respeito inclusive às nossas peculiaridades e de como a vida é por certo imprevisível para todos nós.

Pois é. Mas tem gente que se receber limões da vida, ajusta, inova e faz limonada. Tem aqueles que se o tempo é de lágrimas, eles passam a produzir lenços. Estas pessoas têm em comum a capacidade de flexionar seu emocional. Retirar força do improviso. São pessoas que percebem que a vida é dinâmica. Não serão abatidos pelo tiro de raspão, quando a natureza está ruim porque há imprevisibilidade em tudo que nos cerca.

Esta característica é chamada de Flexibilidade emocional. Flexibilidade Psicológica/Emocional é um conceito interessante. E mais do que isto, importante para o nosso bem-estar. Esta flexibilidade evita que nos tornemos vítimas. Ou que nos sintamos vítimas pelas adversidades que não apenas à nós é endereçada.

Então a Flexibilidade e a Resiliência são conceitos próximos. Flexibilidade e resiliência são termos que envolvem a habilidade de adaptação que o indivíduo tem diante das mudanças que ocorrem em nossa vida. Tem a ver também com a capacidade de evoluir ao se deparar com as adversidades do dia a dia, obtendo aprendizado com todas as experiências, por mais difíceis que elas sejam.

Mas a pessoa resiliente é aquela que suporta as pressões e mantém seu foco. E avalia continuar até seu objetivo final. A Flexibilidade envolve resiliência, mas é um conceito mais rico. Existem pessoas que emocionalmente flexíveis, apresentam com frequência a capacidade para considerar diferentes atitudes; pensam em vários cenários; exploram múltiplas possibilidades e assim adequam suas ações aos desafios. Mais que resistem ao imprevisto e os contornam, mas fazem deles motivos para aguçar sua criatividade e buscam soluções alternativas que ainda envolvem estudo, pesquisa e curiosidade. Alguns até preferem a imprevisibilidade para manterem acesos seus dons, suas criações. Isso acontece ao mesmo tempo em que toleram e assumem as próprias emoções (mesmo desagradáveis).

Acresce que a flexibilidade não significa desorganização, anarquia ou desconexão com si mesmo. Ao contrário, a flexibilidade é comprometida com comportamentos coerentes, caso contrário, a pessoa se perde, e fica na estaca zero. Aliás, nós sentimos menos medo de mudanças quando nossos valores são estabelecidos e temos uma identidade pessoal bem estruturada.

Em experimentos de psicologia em que animais eram utilizados, quando a ordem dos eventos era, o animal era colocado em situação de estresse, sem que pudesse escapar de nenhuma forma, na etapa seguinte, quando eram colocados em situações de estresse, mas que conseguiam alguns pontos de fuga, alguns animais, porque ficaram com a memória da primeira experiência, não tentavam fugir, enquanto outros, tentavam e acabam conseguindo escapar da situação de penúria.

Já quando a ordem dos eventos era invertida, no momento em que os animais eram colocados, na agora segunda fase, onde não havia como escapar, eles sempre tentavam e buscavam exaustivamente uma saída.

Esses experimentos com algumas variações, foram estendidos a outros animais de outras espécies e com adaptações para seres humanos, a forma como se davam as reações na primeira ordem e depois na inversão da ordem, colhiam dados sempre iguais.

Os indivíduos do 1º grupo, onde a ordem era sem escapatória para a segunda etapa onde havia ponto de fuga, apareciam os indivíduos que sentiam a desistência de tentar porque não viam saída. Na inversão das etapas, também, os indivíduos que na primeira etapa tinham opções de fuga, na segunda continuavam tentando.

O resumo disso será que uma faceta do ser humano com a qual muitos poderiam se identificar, é que se acharmos que o obstáculo é muito maior que nós, ou que a nossa capacidade de lidar com ele, paramos de reagir e estagnamos. No entanto, a exposição à adversidade, mesmo profunda e duradoura, desde que manejável, nos permite construir um arsenal que podemos utilizar para ir superando não apenas a situações, mas também novas que aparecerem no futuro.

Assim, se temos em nosso passado, algum sucesso de ultrapassar obstáculos, mesmo que não sejam todos, nos dá confiança de que podemos conseguir superar aquele ali que nos afronta. A verdade é que muito poucos de nós enfrentamos sempre situações irreversíveis onde a luta não vale a pena ou é impossível. Claro que se isso ocorrer na vida de alguns, será sempre desestimulante e essas pessoas perderão a vontade de prosseguir. Esta será uma situação de vida que os levará à uma depressão ainda que não visível, mas de toda forma os estagnará para sempre. Ainda assim, existem posturas de aprendizado que legaremos a outros como exemplo.

Nós construímos instrumentos particulares para dar conta de uma situação difícil, como viver um dia após o outro, aprender a acessar a rede social com moderação, ser mais assertivos quando precisamos de ajuda, alguns passam a rezar rotineiramente, outros a meditar, fazer esporte, ouvir música, entregar-se a um hobby, aumentar a perseverança, reduzir a procrastinação, ajustar o foco, mudar de rumo perseguindo o sucesso por outra via, ou mudando tudo e mantendo a fé nos resultados. Ou até mudando os objetivos, mas mantendo a fé em chegar a algum lugar ao sol.

Por que como é possível que uma pessoa viva por muitos anos sem ter de encarar mares agitados? Se assim for, temos então muitas oportunidades de desenvolver resiliência. Cabe a nós percebermos que uma qualidade como a flexibilidade emocional para arranjar ideias que mudem rumos é uma questão de exercício. Sim, nós podemos nos tornar criativos e aprender com o exemplo daqueles que espontaneamente, até preferem a adrenalina das adversidades, só para descobrir caminhos novos.

O truque é treinar nossa personalidade para enxergar os desafios como superáveis. Agora, existem momentos e fatos que não vamos superar. Por exemplo, quando alguém descobre uma doença que o levará. Muitos buscam uma resiliência que chamarei de espiritual. Talvez a certeza de que um dia todos iremos sair deste plano, é que na nossa psiquê mobilize esta capacidade de ter paz para o inevitável. Longe de uma entrega alguns se permitem uma pacificação, que é distante de desistência.

A vida tem a mania da inconstância. Isto deveria até ser matéria curricular. A única coisa constante nesta vida é a mudança. Tudo sempre muda e nem sempre para melhor. Viver é aprender a remar firme, porque sempre passaremos por mares revoltos.

Adquirir resiliência e manter a capacidade de flexibilizar nossas emoções por vermos oportunidades de crescer, é um aprendizado. Talvez o maior da própria vida.

 

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