Quais os efeitos do isolamento social?

isolamento Social Fala Zé

Fala, Zé! - Por José Roberto Abramo

31/03/2020

As agências espaciais estudam a possibilidade de que missões tripuladas possam chegar à Marte. Sabemos que existem vários desafios técnicos, e o principal, ou um dos mais importantes, é e será como os astronautas sobreviverão ao longo período de tempo absolutamente confinados no interior de suas naves.

Observemos em uma nave espacial vai existir um tipo de confinamento inclusive artificial. Sem gravidade, sem luz solar, sem paisagens, sem pessoas, sem comida natural. Sem poder se deslocar.

Vários estudos permitem avaliar os resultados perturbadores sobre isolamento e falta de luz afetando o corpo humano, mas também sua psiquê. Experimentos de confinamento em cavernas mostraram que, a falta de ter o que fazer faz o tédio se instalar e assim uma tendência dos indivíduos sob condições do experimento, caírem no sono e não perceberem o tempo de sono, nem do tempo de permanência. Isto ocorre porque a luz do dia orienta a pessoa. Sem contar que a ausência de luz sobre a pele humana traz problemas de vitamina D que desencadeia outros problemas em decorrência desta carência.

O confinamento pode, no entanto, não ser tão radical como o espaço sideral ou uma caverna subterrânea, sem luz do dia, sem sons, etc.

Vamos analisar superficialmente o sequestro e o cárcere privado, ambos como restrição de liberdade, imposta de maneira violenta, ou sob coação que possa custar a própria vida. Existem certas semelhanças, mas, também diferenças, entre o sequestro e o cárcere privado.

O cárcere privado consiste na privação da liberdade de locomoção, ou seja, é mais restrito. E também é algo mais local, ou seja, a pessoa pode ser privada de sua liberdade dentro de sua própria casa.

Já o sequestro se baseia na privação da liberdade de locomoção, porém de forma mais ampla, no sentido de que a pessoa possa ser levada à lugar diverso de onde vive.

A clausura retém à pessoa em espaço exíguo, fechado. O sequestro pode ser feito em espaço fechado, mas até mesmo em espaço aberto, como uma ilha, um sítio, por exemplo.

Então, no cárcere privado vai existir a detenção de alguém. Enquanto no sequestro vai existir a retenção. No primeiro se está preso, no segundo se está impedido de sair.

Resumindo: “No cárcere privado, a detenção ou a retenção da vítima é realizada, necessariamente, por meio de clausura ou confinamento. Por sua vez, o sequestro admite que a detenção e a retenção sejam realizadas em um recinto fechado, por enclausuramento, ou em um local aberto”. (Escola Superior do Ministério Público da União).

Apartados por idade

Coronavirus isolamento Social

Robervaldo Rocha/Câmara de Manaus

As sociedades hoje convivem muito mais com idosos do que provavelmente no passado. A questão de que o idoso esteja necessariamente em declínio cognitivo e de suas faculdades gerais, é uma conclusão precipitada. Muitos idosos quando vão para instituições de longa permanência, não o fazem porque se sentem excluídos, ou nem sempre. Uma vez que eles optem conscientemente por estas instituições, é importante observar que tal decisão se deve a manter sua autonomia diante da família, filhos, netos, outros parentes e até pessoas que lá trabalhem ou que eles se vejam obrigados a rotinas que não concordam ou que lhes tolhem.

Porém, é claro que muitos idosos, em muitos casos, são abandonados nestas instituições. Ainda que não abandonados, se sentem apartados de casa e vida ou até bairro, onde gostariam de permanecer. Mas porque muitos fazem uso de cuidadores, e no mais das vezes estes são de difícil administração por parte de seus consanguíneos, às vezes se torna inevitável que sejam acomodados em Instituições e até clínicas. Neste momento podemos falar de confinamento se eles não tiverem condições de viver suas vidas por si mesmos, fazendo uso de liberdade. Mas, é necessário que estes idosos sejam portadores de problemas cognitivos, de locomoção ou alguma deficiência adquirida.

A velhice como é vista hoje, não é uma fase da vida em que se é dependente, ou seja, esperar por outra pessoa para realizar suas atividades cotidianas. A concepção em voga hoje é para uma visão ampliada de que a pessoas nesta faixa etária se encontram em pleno vigor, trabalhando, saindo e se relacionando, ou seja, continuando a viver.

 Problemas Psíquicos e a Reforma Psiquiátrica

A Reforma Psiquiátrica veio para possibilitar o convívio social mais amplo dos portadores de sofrimento psíquico. Ela veio para romper o modelo de internação hospitalar. A mudança de modelo propicia a reinserção social dessas pessoas. Mais pesquisas tem de ser desenvolvidas para que haja mais eficácia da rede de saúde mental.

A convivência social é fator de saúde.

Na infância, convívio escolar contribui para o aprendizado da cooperação. É uma questão de socialização. E aprender em grupo é mais eficiente. Porque as experiências passam a ser compartilhadas. Na juventude, redes sociais podem facilitar encontros entre as “tribos”. Antes das redes, os encontros mantinham a turma focada nas experiências uns dos outros e as trocas de valores e discussão destes valores.

Ali se criavam as tribos, os grupos que definem fatores de personalidade que ficarão para o futuro. O meio das escolas, o meio das universidades, quando há, o meio das relações amorosas. Hoje as redes aproximam em qualquer horário e à distância. Embora às vezes retirem as experiências mais pessoais que se dão no olho a olho. No entanto, este desafio agora traz a facilitação quando somos obrigados a estar segregados.

Na vida adulta, reservar tempo na agenda é o desafio para preservar as amizades. Mas, temos as relações sociais do trabalho. Os desafios da convivência familiar associada ao trabalho. E reservar tempo para visitar os amigos, até mesmo pelas redes, se for o caso. No mais das vezes na atualidade, há uma permeabilidade destes encontros ou reencontros porque as redes aproximam os afins, mas também trazem os distantes ao convívio virtual.

Hoje em dia, estar isolado é uma tarefa de empenho pessoal. Antes as camadas das sociedades se mantinham mais distantes.Hoje, apesar das bolhas que delimitam tribos impenetráveis, os encontros são possíveis. Em resumo, há uma fala da psicóloga diretora do Instituto de Psicologia Social Pichon-Rivière que diz. “O indivíduo isolado não existe, mesmo quando estamos sós os outros nos acompanham internamente”

Apartados por deficiência física

 Problemas Psíquicos e a Reforma Psiquiátrica

A Reforma Psiquiátrica veio para possibilitar o convívio social mais amplo dos portadores de sofrimento psíquico. Ela veio para romper o modelo de internação hospitalar. A mudança de modelo propicia a reinserção social dessas pessoas. Mais pesquisas tem de ser desenvolvidas para que haja mais eficácia da rede de saúde mental.

A convivência social é fator de saúde.

Na infância, convívio escolar contribui para o aprendizado da cooperação. É uma questão de socialização. E aprender em grupo é mais eficiente. Porque as experiências passam a ser compartilhadas.

Na juventude, redes sociais podem facilitar encontros entre as “tribos”. Antes das redes, os encontros mantinham a turma focada nas experiências uns dos outros e as trocas de valores e discussão destes valores. Ali se criavam as tribos, os grupos que definem fatores de personalidade que ficarão para o futuro. O meio das escolas, o meio das universidades, quando há, o meio das relações amorosas. Hoje as redes aproximam em qualquer horário e à distância. Embora às vezes retirem as experiências mais pessoais que se dão no olho a olho. No entanto, este desafio agora traz a facilitação quando somos obrigados a estar segregados.

Na vida adulta, reservar tempo na agenda é o desafio para preservar as amizades. Mas, temos as relações sociais do trabalho. Os desafios da convivência familiar associada ao trabalho. E reservar tempo para visitar os amigos, até mesmo pelas redes, se for o caso.

No mais das vezes na atualidade, há uma permeabilidade destes encontros ou reencontros porque as redes aproximam os afins, mas também trazem os distantes ao convívio virtual.

Hoje em dia, estar isolado é uma tarefa de empenho pessoal. Antes os estratos das sociedades se mantinham mais distantes.

Hoje, apesar das bolhas que delimitam tribos impenetráveis, os encontros são possíveis.

Em resumo,

“O indivíduo isolado não existe, mesmo quando estamos sós os outros nos acompanham internamente – diz a psicóloga Nelma Aragon, diretora do Instituto de Psicologia Social Pichon-Rivière.

A construção desses laços sociais começa desde o nascimento, quando mãe e bebê estabelecem os primeiros vínculos. Depois, cada etapa vai constituindo novas redes de relações: o ambiente escolar, as tribos da adolescência, os colegas da faculdade, o casal, os grupos de terceira idade.

– A sociabilidade nos constitui por toda a vida, é assim que se aprende a confiar em si mesmo e não temer o mundo – ensina Nelma”.

Atualmente está mais que consolidada a concepção de cidadania que seja garantida a todas as pessoas com deficiência. Apesar que ainda sobrevivem os deficientes a uma gigantesca exclusão econômica e ainda, dificuldades de inserção plena no mercado de trabalho.

Muitas pessoas com deficiência encontram barreiras para acessar os serviços públicos, sofrem violências simbólicas e/ou físicas e ainda são passíveis de serem enclausuradas em instituições totais. Vivências de discriminação e preconceito que deixam suas marcas na formação e expressão da subjetividade desses sujeitos. A violência não é condição de humanidade. É violação à dignidade humana. Com esse cenário, a Psicologia, em seu papel social, precisa urgentemente romper com os processos patologizantes e estigmatizantes dos comportamentos e produzir referências para a compreensão das diferenças e singularidades que compõe a diversidade humana. Urge um novo lugar social para a deficiência, que não seja da incapacidade, da doença, do defeito. Mais que isso, é necessário, em consonância com os anseios dos movimentos sociais de pessoas com deficiência, promover suas potências, contribuir com propostas de políticas públicas adequadas às necessidades desse público e ocupar-se da humanização das relações entre os sujeitos, as instituições e a sociedade.

Apartados por solidão no mundo

Estudos tem se estendido ao sentimento de solidão no mundo atual. Vários estudos internacionais falam que, nos países ocidentais, 1 em cada 3 pessoas se sentem sozinhas com certa frequência. Imaginemos que estamos na sociedade da hiperconexão nas redes sociais e afins.

Um estudo de 10 anos que foi  iniciado em 2002 pela Centro de Neurociências Cognitivas e Sociais da Universidade de Chicago, em uma grande área metropolitana indicou que, a proporção é mais de uma em cada quatro pessoas. Uma taxa que considera-se muito alta.

Boa parte destas pessoas não se sentem solitárias em si mesmas, mas socialmente isoladas. Em princípio estas pessoas relutam e tentam conexões com os outros, porém, com o tempo, a solidão cuja origem é a incapacidade de manter a conexão com grupos e ter amigos, faz com que se instale a solidão. Esta se torna crônica, porque a dor, a rejeição, levam à resignação. O fato de realce nestas pesquisas é que muitas destas pessoas têm família, amigos, um círculo de seguidores nas redes sociais, mas não se sentem sintonizadas com ninguém.

Esta sensação de solidão e apartamento da sociedade mantém o organismo em constante alerta e isto traz uma série de problemas físicos decorrentes deste estresse.

Vamos observar que este estado de solidão crônica, que nada tem a ver com depressão, que fique aqui claro, é detectado pelos familiares e amigos. Esta pessoa que está triste, irritável, o mais das vezes está pedindo, em silêncio, que alguém se conecte com ela.  É hora de fazer uso de paciência e empatia. Esta pessoa precisa de recuperar a confiança e reestabelecer vínculos.

Isolamento social por serem refugiados em terra hostil

Pela a Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados, estes são indivíduos que se encontram fora de seu país por causa de temo de perseguição, motivados em raça/etnia, religião, nacionalidade, questão de opinião política, participação em grupos sociais determinados, e mais modernamente, aqueles obrigados a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação dos direitos humanos.

A Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, anunciou que o número de pessoas saídas de seu país de origem, em todo o planeta, havia ultrapassado os 50 milhões pela primeira vez desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na atualidade este valor total deve ter ultrapassado 60 milhões.

A maioria dos imigrantes atuais são da África e Oriente Médio.

Nos últimos anos alguns conflitos irromperam e reacenderam. Exemplo, um quarto dos refugiados são palestinos, mais de uma vez deslocados de seu país. Desta vez pela guerra da Síria. Mas os motivos para deslocamentos de populações são associados a mudanças de clima, desastres naturais ou dificuldade de ganho para subsistência familiar e individual.

A saúde mental dos refugiados pode ser objeto de análise da saúde mental na fase adulta, na adolescência e na infância. O aumento dos refugiados nestes últimos anos releva temas como diversidade cultural, a importância da família e do apoio a estas, atuação de profissionais envolvidos, a presença de doença mental quando há, e direitos humanos.

As pessoas de várias nacionalidades estão enfrentando hoje em dia hostilidade quando imigrantes para países, principalmente europeus, porque ao contrário de antigamente onde eram bem-vindos como mão de obra, hoje esta mão de obra não é mais necessária, até por causa da mecanização, então são olhados como intrusos, muito pelas suas culturas e religião. Isto define para eles locais demarcados e certo estranhamento nas sociedades. Estas pessoas desenvolvem distúrbios como depressão, e transtornos ligados ao estresse.

Violências diversas, tortura, massacres, morte de parentes e amigos são circunstâncias traumáticas às quais muitos refugiados são expostos. Fome e perdas de bens também são frequentes nessa população, além do choque sociocultural no país de refúgio

Em campos de refugiados superlotados como vem acontecendo, as pessoas acabam por ser vítimas de todo tipo de vivência sem perspectiva, violações de direitos, agressões, problemas familiares, entre outros. O principal problema que dá origem a outros problemas psicológicos, é o de não pertencimento, o outro é de estar em um local de onde não se tem alternativa para sair. Assim, podemos considerar que estes refugiados se sentem confinados.

Apartados por doenças contagiosas

Com relação à pessoa que passa por isolamento para controle de infecção, são fatos as respostas a este isolamento. Embora necessário, não será menos penoso. Quais seriam então os efeitos adversos? Em princípio, tem sua rotina quebrada, assim ficam mais submetidos ao estresse.

Restrições de movimento e liberdade de movimento ou deslocamento, são reais e até obrigatórias. Com isto vem a incapacidade de se comunicar de forma satisfatória porque sempre o farão por porta vozes. É claro que por tudo isto este confinamento pode levar a manifestações emocionais e comportamentais.

Entre os prejuízos médicos, pode-se assinalar a diminuição da frequência e da duração dos contatos com os médicos e enfermeiros. Na dimensão psicológica solidão é filha do confinamento ou isolamento social, medo da doença que levou a equipe a isolá-lo, receio de estar colocando as pessoas em risco. No que se refere à dimensão social, o autor cita a restrição da do caminhar, diminuição dos exercícios físicos e a limitação das visitas.

Porém, a restrição aqui descrita é um isolamento por sabida necessidade sanitária em benefício do paciente, de seus parentes próximos e terceiros. O que não significa que não traz todo os problemas do confinamento.

Apartados por pânico

Algumas pessoas sofrem de ansiedade um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. Em geral se chama este tipo de afecção de Transtorno de Ansiedade.

O Transtorno do Pânico tem sido um problema de saúde importante, apesar de não ser o transtorno ansioso mais frequente.

Quando a pessoa não tem reconhecidamente um problema psiquiátrico, o transtorno de pânico pode ser definido como, crises de medo e desconforto intensos, com sintomas que se desenvolvem subitamente, tais como taquicardia, sudorese, tremores às vezes falta de ar, sensação de iminência de desmaio, náusea, vertigem, entre outros. A sensação de descontrole ou de estar anestesiado diante da situação vaga, ou até sensação de iminente ataque cardíaco.

A diferença entre os transtornos de ansiedade e pânico é apenas a intensidade dos sintomas. Mas ambos podem levar a pessoa acometida ao isolamento social, por se sentir ameaçada ou inadequada.

Isolamento social face à ameaça do Coronavírus

Vimos pelos estudos até aqui que a consequência do confinamento seja por qual motivo for, é uma carga pesada para o ser humano.

É importante jogar luz sobre o que ocorre e ocorria, muito antes da pandemia nos obrigar mundialmente a tomar esta atitude. Existem muitas situações em que a pessoa ou até mesmo grupos se veem na contingência de estar apartados do convívio social.

A NASA com sua experiência de mais de 50 anos em situações de confinamento de suas equipes em estações orbitais e naves, diz que os indivíduos confinados precisam estar alinhados psicologicamente, fisicamente e logisticamente para que não haja crises.

Claro que sua experiência é de forma dramática, o extremo do que estamos vivendo. Alguns astronautas dentro de uma estação, isolado socialmente, mas também em um ambiente artificial, pressupõe um modelo de trabalho altamente especializado. Mas, podemos tirar algum proveito de suas análises.

O estresse e a falta de recursos e suprimentos são situações desestabilizadoras. Em algumas favelas de São Paulo, as pessoas que trabalham informalmente, já estão saindo do isolamento por necessidade de algumas coisas essenciais, em alguns casos falta de dinheiro e de alimentação.

O o isolamento social é necessário para conter o coronavírus, com certeza tem um impacto social e psicológico. A China relata aumento de nos índices de violência doméstica nas regiões onde as pessoas estão sob as circunstâncias do isolamento social. O número de divórcios também aumentou.

“Quando estamos confinados, perdemos a nossa rotina, reduzimos a nossa atividade física e, em caso de quarentena, as pessoas podem ser vítimas de stress pós-traumático, irritabilidade, angústia e insônia”, explica Chee Ng, professor de psiquiatria da universidade de Melborne e colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O confinamento gera um sentimento de incerteza, de tédio e de solidão. E quanto mais longo, mais importantes são as repercussões na saúde mental”, analisa.

O isolamento social provocado pela falta de vida social também pode provocar uma elevação no organismo dos índices de cortisol, o hormônio do stress, e esse aumento representa possível risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, depressão e até obesidade, dizem estudos.

Com o isolamento social, a China se tornou um exemplo flagrante dos efeitos do isolamento físico na saúde mental. Os chineses após o término do isolamento e, até mesmo durante este período, houve uma explosão da procura aos psicólogos.

Eric Klinenberg, sociólogo da Universidade de Nova York, estima que haverá um nível de sofrimento social relacionado ao distanciamento. A Internet não será a solução necessariamente. Atenua, mas em certos casos tira a sensação de realidade, e se fica à mercê de informações duvidosas, se não houver critério para avaliação por parte do usuário, porque não sabemos se estas notícias podem ou não agravar o impacto do confinamento.

E a sensação de isolamento não diminui. O fluxo de informações que vem a provocar ansiedade, recebeu o nome de INFODEMIA, pela Organização Mundial da Saúde. INFODEMIA é o fluxo de informações duvidosas. Nas redes sociais, Facebook, grupos de Whatsapp, Twiter, as notificações são monotemáticas.

Um fato perigoso é a corrida às prateleiras por centenas de pessoas, o que as têm mantido em alguns casos, vazias, é fato assustador.

A psicóloga Vera Iaconelli em entrevista ao Café da Manhã da Folha de São Paulo, emitiu sua posição:

“A gente vive numa sociedade super individualista e consumista. Temos um pensamento muito pouco coletivo e altruísta. Essa corrida ao supermercado chega a ser tragicômica. As pessoas estão sempre esperando o fim do mundo. Aí junta individualismo, consumismo, competição e uma cultura mundial absolutamente ansiosa que vive à base de medicação pra controlar esse estresse, essa combinação é bombástica. Junta com isso a virtualidade, fake news e uma manipulação de mercado. É um palheiro que tem tudo pra pegar fogo”. 

A Dra. Vera Iaconelli também disse que o vírus chegou especialmente pela elite econômica e cultural, por exemplo Tom Hanks, e dessa forma desce às camadas mais abaixo. Mas ela adverte, não é preciso estocar alimentos, comprar todo os rolos de papel higiênico, comprar todo álcool gel da praça e máscaras cirúrgicas.

O Sistema de Saúde brasileiro tem expertise para lidar com a pandemias. Por isto não há necessidade de pânico, neste sentido. Porém, o sistema pode colapsar, não por incompetência profissional, mas porque, como relata a UFMG.

“O sistema de saúde brasileiro não comporta uma rápida escalada dos casos graves de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Em um mês (até o fim de abril), se 0,1% da população em algumas microrregiões de saúde do Brasil estiver infectada já haveria sobrecarga dos leitos UTI. Caso o percentual da população infectada em cada microrregião atingisse 1% em um mês, o sistema entraria em colapso, com 53% das microrregiões de saúde operando além de sua capacidade.”. Por isto é necessário o confinamento.

Temos de resistir apesar de todos os problemas relacionados com o confinamento ou isolamento social. Sabemos que teremos o agravamento de conflitos familiares, brigas entre casais, irmãos, parentes. Provavelmente a violência doméstica aumentará. Mulheres e crianças poderão sofrer abusos maiores do que em condições fora do isolamento. Os pobres que nunca tiveram acesso aos bens necessários, terão dificuldades em escala crescente, podendo gerar o intensificar o caos social.

Temos 50 milhões de pessoas no nosso país como trabalhadores informais que terão dificuldade de gerar sua renda agora ainda mais porque a circulação de pessoas diminui dramaticamente.

Em torno de 60% das famílias estão endividadas e isto tornará mais difícil compor suas rendas. Teremos despejos em massa? Talvez todos os desdobramentos do isolamento social, como desemprego, endividamentos, e outras questões, levem a transformações na sociedade que, provavelmente, não teremos o vislumbre agora.

Esta vem sendo nesta empreitada a crise mundial, além das questões econômicas. Parece que temos novos desafios. Depois de vencida esta epidemia, teremos um outro olhar para as necessidades das pessoas e saberemos melhor avaliar os excluídos, os presos, os confinados em vidas com profunda escassez e os que são retirados compulsoriamente do convívio social, por qualquer motivo.

E talvez desta epidemia saiamos com mais capacidade de nos ver como iguais. Talvez cresça a solidariedade. Talvez as fronteiras sejam menos impermeáveis. Talvez as culturas de parte a parte, mais valorizadas. E talvez conheçamos mais o outro após este isolamento social. Quem sabe?

 

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