Cordel fora do armário 

Representatividade - Por Vai Ali

05/04/2018

Essa é minha história

Incrível causo vim contar 

A poesia hoje me aflora 

Trouxe versos na sacola 

Dizem que sou criativa 

Muita gente me incentiva 

Surgiu então um babado 

Pra desfazer mal falado 

Eu assumo amar meninas 

 

A sociedade me apaga

Alguns amigos tem vergonha 

se são minhas cama e fronha 

Então pq te desagrada?

ô pátria amada 

Me diz como entender 

Faça parar de doer 

Seus filhos estão amando 

E por isso estão sangrando 

Enquanto eu falo estão matando 

Mais um LGBT 

 

Geralmente me olham estranho 

Falam pelos cotovelos 

Da minha roupa, do cabelo 

Pois ele eu trancei com pano 

De que te importa quem eu amo? 

Me excluíam quando criança 

Por meu peso na balança 

Cabelo encaracolado 

Mas com estilo desleixado 

Hoje a menina ainda dança 

 

São muitas meninas 

Vivem em conflito interno

Pois preferem usar terno 

Ou às vezes não ter vagina 

Então Imagina 

Se amar ao ver espelhos 

Novo corte de cabelo 

Morte e vida Severina 

Ainda retiram vidas 

No sertão de preconceito 

 

Na sua mente não cresce flor 

Na minha alma crescem hematomas 

Esse é um poema de defesa 

Não apenas uma afronta 

Eu já tô mais do que pronta 

Mas eu não nasci pronta 

Tive que me lapidar 

Imagina quanta coisa eu não ouvi 

Por pouco não me vendi 

Me ensinaram a me odiar 

 

Dispenso etimologia 

LGBTfobia o que seria 

medo do amor ? 

ou dificuldade de cuidar da própria vida? 

Pode parar e reparar 

Sociedade é escrota 

Pois aplica gênero às roupas 

Onde menina brinca de casinha 

E menino é “mariquinha” 

Se também quiser brincar?

 

Quero amar sem temer 

Liberdade ao meu corpo 

Perante o mundo todo

Não precisar te convencer 

Será que deu pra entender? 

Cansada de explicar 

Quando isso vai acabar 

Eu sou bem paciente 

Sou lésbica, não doente 

Então não tente me curar 

 

A mídia diz o que fazer 

Mas não sou massa de manobra 

A justiça uma hora cobra 

Ninguém vem me defender 

Meu filho vai aprender 

A não cair em fina malha 

A traçar suas batalhas 

A não ser um otário

E que dentro de armário 

Só as crônicas de Nárnia 

 

Adolescentes se mataram 

Ontem suicidaram 

Amanhã dirão adeus 

é letal a hipocrisia 

é mortal a transfobia 

Até quando matarão os meus 

Pra inflar o ego do seus? 

Me deus 

 

Eu finalizo com uma frase 

Do meu primeiro poema 

Pois é o mesmo problema 

E não há respeito algum 

Ego é realmente a grande bosta 

Do século XXI 

 

Laura Conceição

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