Efeito Manada

Comportamento - Por Vai Ali

28/08/2017

Desde os primórdios da humanidade tem se observado que, instintivamente, o ser humano age conforme a maioria, sem parar para refletir se tal ação está em acordo com seus princípios pessoais, ou com aquilo que ele percebe estar em desacordo com a opinião da maioria. E, o mais das vezes não se detém para perguntar o porquê de estar agindo assim. A conduta de agir conforme a maioria é chamada de Efeito Manada.

Existe uma tendência bem ligada ao efeito manada como quando vamos procurar um restaurante entre muitos, o que tem mais pessoas nos atrai, como se aquele necessariamente fosse o melhor. O que não o sabemos de antemão. As filas por exemplo. Quando um produto é tido como escasso, ou um aumento previsto, as pessoas parecem atraídas para as filas como se necessitassem definitivamente daquele produto para suprir suas subsistências a toda prova. A moda por exemplo. Quando uma tendência é anunciada e as pessoas começam a usar aquele estilo. Aquela roupa. Aquele sapato. Aquela rede social, ou se comunicar por uma e outra. O perfil das redes é altamente sugestivo, incluso comportamento e opinião.

“No mercado financeiro: quando a bolsa está em alta e as ações caras, muitos querem investir, criando as famosas "bolhas", quando a bolsa está em baixa e as ações baratas muitos querem vender e poucos aplicar, criando os crashes. 

Uma boa parte das vezes não sabemos de fato o que queremos. Dado isto, o ambiente que nos cerca dirige nossas ações, influencia nossos pensamentos e pode definir escolhas que não fazemos sozinhos, mas amparados na maioria. Como que se fosse uma proteção a ser aceitos, ou de antemão, não correr o risco de estar sozinho com sua atitude. Os cientistas se surpreendem que nossa mente é capaz inclusive de perpetuar uma ação, ou seja, ao nos defrontarmos com certas situações, tomamos decisões como  que tomamos no passado. O que poderia ser chamado de auto-manada.

As empresas estudam a todo tempo nosso comportamento. Desta forma nos ludibriam. Por exemplo, lança-se um produto novo por um preço exorbitante, mas que não sabido do consumidor. Depois é dado um desconto substancial, o que pode induzir a pensar ser um bom negócio. Em primeiro lugar: alguém conferiu se este preço não é abusivo? Em segundo lugar, você precisa daquele item?

Algumas necessidades são propagadas pelas diversas mídias que não são necessidades reais. São apenas escolas de comportamento ditando para o consumidor a regra de ouro. Poucos resistem ao charme dos produtos. Um exemplo: antigamente as pessoas se contentavam em passar as férias em algum lugar se divertindo. Depois vieram as férias na praia. E você se sentia diferente se não programasse uma para você. Ultimamente as férias de alguns são fora do país. E muitos se esforçam para conseguir pacotes que possam incluir em seu orçamento.

Solomon Asch pioneiro na Psicologia Social, na década de 1950 começou a elaborar suas pesquisas acerca da pressão social exercida pelos grupos. A pergunta que ele pretendia responder era: como e até que ponto as forças sociais moldam as opiniões e atitudes das pessoas?

“Utilizando-se desse saber e da capacidade da retórica, Adolf Hitler conseguiu realizar todas as atrocidades do nazismo, por duas vias, uma conquistando apenas 10% da população alemã com suas palavras calorosas, tornando-a parte de seu movimento e outra onde o restante da população, mesmo sendo a maior parte não ativa no movimento, tornou-se de certa maneira refém deste. Era um grupo com os mesmos objetivos e com um líder a sua frente, aparentando assim ser mais forte que os indivíduos sozinhos que, seja por medo ou por comodismo, preferiram fingir não estarem vendo os acontecimentos à sua volta, como mortes e violências banais”

Referência

Algumas experiências recentes com voluntários descrevem que quando muitos discordam de você, sua tendência é desistir de seu ponto de vista e acompanhar a maioria. E muitos o faziam como cobaias no meio de atores, de forma que podiam ver o resultado. Hoje em dia, em trabalhos que reúnem grupos, é melhor que este seja pequeno.  Porque se o grupo for muito grande e a maioria fizer uma opção, soterra a participação dos que poderiam sugerir e questionar. E este questionamento pode trazer luzes às ações, bem como no futuro abrir janelas. Trabalhar com grupos muito grandes pode ser contraproducente

Veja que somos sensíveis à opinião de estranhos quando estamos em desvantagem numérica. Mesmo tendo certeza de nosso ponto de vista, cedemos no mais das vezes quando a maioria nos cobra sintonia, ou nos olha como se fossemos ETs.  

Crianças e adolescentes que permaneçam forçados a conviver por tempo indeterminado com grupos com os quais não escolheram pertencer, como a classe na escola, ou na escola, ou no local, cidade, etc, onde o diferente é marginalizado ou, ainda, até ridicularizado, sofrem pressão irresistível. Desta forma, dependendo do contexto mudam sua conduta quanto a drogas, bebidas e até o crime, se for o caso. Prisões de usuários de drogas comprovam que, por muito pouco que um usuário carregue e que porventura venha a ser encarcerado, dali ele pode sair um indivíduo perigoso, por pressão do grupo que depois não o abandonará.

O efeito manada ocorre em finanças, direção que investidores seguem polarizadas pelos mercados.

O efeito manada também passa pelas religiões, em agremiações políticas, ou por tendências políticas de uma época, ou traduzidas e massificadas por mídias interessadas em manobrar mentes, por interesses de seus donos. Isto quando ligados ao poder.

O consenso na sociedade é necessário, mas que não seja feito a partir de grupos de comando privilegiado. Se o consenso é produzido por dominação, mesmo que subliminar, ou por conformidade em face da alienação, o processo social se rompe e os valores desta sociedade e da individualidade se perde no todo e vira uma massa amorfa. Sem sentido, portanto.

Referência

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José Roberto Abramo é professor de física e matemática, além de profundo estudioso do comportamento humano.

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