Será que eles tão achando
Que a gente tá gastando
O dinheiro que
É do nosso patrão?
Mas na verdade eu não
Tenho nem patrão
Pois eu estou desempregada
E poesia falada
Não tem remuneração
Tempo é dinheiro
Eu vou sem tempo
Vou sofrendo
Pois além de tempo
Dinheiro não vem fácil não
Mesmo se eu tivesse um dinheiro
Uma Bufunfa, um trocado, um migué
Não adiantaria
Pois nunca nenhum dia
O dinheiro compraria
O amor daquela mulher
Mas que tristeza
Vou chorar com meu benzinho
Vou pedir mais um carinho
Pra acalentar coração
Mas na verdade eu não tenho
Nem benzinho
No passo do mineirinho
Hoje em meu coraçãozinho
Só existe serração
Serração baixa
Sol que racha
Que desgraça
Pra ver Graça
Vou ter que rachar a pé
Sai da praça
Sem cachaça
Fui na raça
E de pirraça
nem de Graça
Consegui um picolé
Querem versos de resistência
Falando de resistência
Mostrando resistência
Juventude e resistência
É porque tá na moda
E pra nóis que vive de resistência
Exalando a essência
Só sobra decadência
E eles gritam com violência
Que o hip hop é foda
Se eu for pro calçadão
Falar minha arte
O policial me bate
O machista me abate
Os cachorro me avança e late
Meu fim será massacrante
Caso contrário é só coincidência mera
Eu já sei o que me espera
Pois eu conheço a minha terra
Pouca gente me tolera
Pois são Intolerante
No Facebook o boy paga de covarde
Solicita amizade
Diz q sou um show à parte
Que venera minha arte
Começa a babar meu ovo
Eu quero ver não me largar
Dizer que eu sou pra namorar
Quando o ano acabar
Me levar para ceiar
Com a família no ano novo
Tem gente que nem escuta meu poema
Diz que eu sou um problema
Depois vem julgar meu tema
E pra tirar teima
Me chama de sapatão
Eu acho até engraçado
Não me pega seu mal olhado
Tenho boa intuição
Se não atura enfia a cara num buraco
Porque isso no seu caso é
Uma boa solução
E dando pitaco etc e coisa e tal
Poesia marginal
Me chamam de marginal
Pois ela sei recitar
Não é marginal, é periférica
Resistência e métrica
Vida assimétrica
Cês só ensinam a métrica de
Ferreira Gullar
Então pra me ajudar
Vê se compra uma rifa
Salve poesia de perifa
Uma salve pra cooperifa
E pro poeta Sérgio Vaz
E agora um minuto de silêncio
Pro futuro do milênio
Pra todxs poetas gênios
Que perderam a sua paz
É preciso resistir continuar
Não parar de recitar
Pra gente não acabar
Num eterno “aqui jaz”
Laura Conceição