Coringa: diretor responde as maiores dúvidas sobre o filme

Cinema Cultura - Por Miriam Azevedo

31/10/2019

Se você ainda não viu Coringa, pare de ler agora e corra para o cinema mais próximo. Você está perdendo um dos melhores filmes dos últimos tempos e abaixo está cheio de spoilers. Agora se você já assistiu e assim como nós está ansioso para entender mais sobre esse filme que conquistou público e crítica  e  já arrecadou cerca de 849,1 milhões de dólares desde sua estreia (3), você está no lugar certo!

Brilhantemente, o diretor Todd Phillips te leva para o íntimo de Arthur Fleck durante sua transformação em um dos personagens mais icônicos dos quadrinhos, sem entregar o ouro. Coringa surpreende não só pela atuação marcante de Joaquin Phoenix como também pela ambiguidade da trama. Com isso, muitas teorias vem surgindo na internet, o que levou Phillips e o diretor de fotografia, Lawrence Sher, se pronunciarem sobre as diversas interpretações do filme.

1) Foi tudo alucinação?

Coringa traz vários questionamentos do que realmente aconteceu e do que foi apenas alucinação, como o relacionamento com Sophie Dumond – o que é confirmado pelo próprio filme. Essa teoria também ganha força se levarmos em consideração a última cena, onde Arthur aparece preso e rindo dos próprios pensamentos durante consulta com uma psiquiatra.

Sobre essa teoria que vem ganhando força nas redes, o diretor de fotografia resolveu esclarecer o mistério: “Nós queríamos fazer com que a interpretação do que é real versus o que não é fizesse parte da experiência do espectador.” Quando questionado como descobrir qual cena é realidade ou não, Sher completou dizendo: “Existem cenas e referências que se espelham. Deixamos dicas usando algumas simbologias e na maneira em que filmamos as coisas, de formas parecidas entre as cenas”, convidando assim o espectador a rever o filme e descobrir quais são esses momentos.

via GIPHY

2) Arthur mata Sophie?

Se você ficou com o coração na mão por imaginar que Arthur matou sua “namorada” e a filha dela, pode ficar tranquilo. Muitos espectadores ficaram nessa dúvida, mas Sher é bem pragmático ao afirmar que: “por exemplo, o relacionamento dele com Sophie é uma fantasia para ele. Com isso, várias pessoas me perguntaram: ‘Ela foi morta?’. Ele [Todd Phillips] já deixou claro que ela não foi. Arthur mata apenas as pessoas que fizeram mal e ele de alguma maneira, e Sophie nunca fez isso. Mas gosto que as pessoas discutam e cheguem a suas próprias conclusões”.

via GIPHY

 3) Arthur sofre de algum transtorno específico?

Assim como em outros momentos do filme, Todd preferiu deixar esse ponto em aberto e deliberadamente evitou escolher um transtorno específico, apesar de muitas análises terem sido feitas por médicos e profissionais da área. “Eu, e Scott [Silver] e Joaquin [Phoenix], nós nunca falamos sobre o que ele era – eu nunca quis dizer “Ele é um narcisista e isso e aquilo.” Nunca quis que Joaquin, como ator, começasse a pesquisar esse tipo de coisa. Nós só dissemos, “Ele é esquisito.” Eu nem sei se ele tem um transtorno mental. Ele é apenas azarado com o mundo.”

via GIPHY

4) O Coringa de Todd Phillips é baseado em alguma HQ?

O longa não segue nenhuma HQ específica, apesar de ser repleto de referências e homenagens principalmente ao “Cavaleiro das Trevas” – um dos quadrinhos mais emblemáticos do Batman. Logo nos primeiros minutos do filme é possível reconhecer um momento do quadrinho em que há um telejornal informando os problemas sociais de Gotham. Também na HQ, o Coringa é convidado para participar de um talk-show que termina com o palhaço do crime matando os presentes e fugindo, assim como no filme.

Coringa na cena referência de quadrinho

Coringa de Todd Phillips possui referências do quadrinho “Cavaleiro das Trevas”

5) Quando o filme se passa?

Mais uma vez o diretor prefere não especificar o ano, pois esse não é o foco. Só se sabe que Coringa se passa em algum momento do final dos anos 1970 e começo dos 1980. “Uma das razões foi separar o filme, honestamente, do universo DC”, afirma Todd deixando claro que ele queria construir uma obra única e isolada, sem dever nada pra ninguém e sem crossover. Entretanto, é curioso pensar que um vídeo de Arthur Fleck passando durante um stand-up tenha “vazado” e viralizado tão rápido em uma época sem internet. Fica a dúvida se em algum momento, Phillips deixou escapar esse detalhe ou pensou em adaptar para os dias atuais.

via GIPHY

6) Qual a verdade por trás da risada do Coringa?

Quanto a risada de Arthur, o diretor explica: “Existem risadas diferentes no filme. Há o riso da aflição de Arthur e o riso falso dele quando ele tenta ser ‘uma das pessoas’, que é o meu riso favorito. Mas no final, quando ele está na sala do Hospital Arkham, essa é a única risada genuína dele no filme”. Mas o que isso quer dizer? Uma das teorias mais comentadas é que o Coringa ri da grande ironia que o filme representa, a piada a qual o protagonista se refere quando está confinado no hospício, na cena final. Indiretamente, o Coringa mexeu as engrenagens que culminarão na criação do Batman, mesmo que o herói nunca apareça nesse universo isolado. São realmente dois lados da mesma moeda.

via GIPHY

7) Haverá uma continuação?

Com todo o sucesso conquistado e se consagrando como a maior bilheteria de filmes para 18+, há uma pressão natural para que haja uma sequência. O próprio Joaquin Phoenix já demonstrou interesse, desde que Todd Phillips tenha uma ideia tão interessante quanto a original. Apesar disso, Phillips rebate: “Não temos planos para uma sequência. Teve gente que disse que eu faria o que Joaquin quisesse e realmente é assim. Mas o filme não foi construído para ter uma sequência. A ideia era apenas um filme e é isso’.

Fazer uma sequência tão bem-sucedida será uma missão árdua, um possível caminho seria explorar como Arthur Fleck contaminou a sociedade e o que ele faria com esse poder nas mãos. Mas infelizmente só nos resta esperar, por enquanto são só rumores.

via GIPHY

Ainda tem dúvida sobre Coringa de Phillips?

Diante de tantas teorias e dúvidas, as respostas de Phillips são interessante, pois, diferentemente da maioria dos cineastas, que optam por comentar e explicar cada detalhe dos filmes, ele responde deixando a dúvida no ar. Para ele, como o Coringa sempre teve diversas origens, responder todas as ambiguidades do filme seria ir contra o conceito do próprio personagem.

“Eu gosto de pensar no meu passado como múltipla escolha, é um pouco como ‘Espere, isso aconteceu?’. É realmente divertido quando você faz um filme com um narrador não confiável. Não existe outro narrador não confiável como o Coringa, e acho que isso ajuda a reação das pessoas em relação ao filme; eu gosto que as pessoas não saibam o que aconteceu. Há certas coisas que, se você vir de novo, notará sobre a sala branca no fim, que meio que começa no começo”, concluiu Phillips.

Mesmo com algumas respostas, só temos uma certeza: Coringa é uma grande piada, do começo ao fim!

Compartilhe: