X

Esperança em Redes

“A história da humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a educação e a catástrofe”. H. G. Wells – escritor – romancista.

No momento presente tudo muda em questão de dias, até horas. Assuntos aparecem e somem nas mídias, mesmo importantes, desde que seja muito importante que outros assuntos venham à superfície. Nada parece ser suficientemente discutido por ninguém. Não há reflexão aprofundada. Algumas pessoas apenas conseguem.

“As relações se misturam e se condensam com laços momentâneos, frágeis e volúveis. Num mundo cada vez mais dinâmico, fluído e veloz. Seja real ou virtual”. (Zygmunt Bauman)

Qual é o papel da educação na era da informação? Que perspectivas temos?

Como se dará a relação na sociedade na era da informalidade, da volubilidade, da fluidez?

Será que estamos perdendo tudo mesmo?

Somos irrecuperáveis?

As forças que nos distanciam não estão também perdendo a batalha? Elas, as forças, não estão também se distanciando?

Acho que devemos pesquisar um pouco mais, nesta possível mudança de paradigma. Toda mudança causa temor.

Em uma visão que devemos levar em consideração, analisa-se a postura otimização da capacidade.

O indivíduo parece estar desvalorizado em frente à tecnologia. Por exemplo, em um videojogo se programa apenas a superação de limites, pulando de fases a fase, estimulando o reflexo e a rapidez de raciocínio. Não resta dúvida que isto é um ganho. Mas a finalidade deste ganho, se confunde com a de uma sociedade em constante competição e individualismo. E isto limita a reflexão e a criatividade. Corta a contemplação, o que nos torna mais apto a arguir os processos pelos quais passamos ou somos obrigados a viver. Isto está muito ligado a acumulação, por exemplo de capital. E a realização pessoal e mesmo coletiva sai de plano. Isto favorece a instrumentalização ideológica. A pessoa é estimulada a decifrar os valores sociais vigentes e sem questionamento. Enquanto não se perde tempo com a rapidez, perde-se de fito quais objetivos o ser humano poderia querer de melhor para si em conjunto com os outros, e até com as outras espécies. Traduzindo um mundo que se renova.

Clique aqui para conferir as referências deste texto.

Mas existe uma visão otimista desta geração ou desta renovação.

“A maioria das críticas se baseia em desconfiança e medo, geralmente por parte de pessoas mais velhas.  Esses temores talvez sejam compreensíveis. A nova rede, nas mãos de uma nova Geração Internet tecnologicamente preparada e com uma mentalidade comunitária, tem o poder de abalar a sociedade e derrubar autoridades em várias áreas. Quando a informação flui livremente e as pessoas têm as ferramentas para compartilhá-la de maneira eficaz e usá-la para se organizar, a vida como nós a conhecemos se torna diferente”. (TAPSCOTT, 2010, p. 17). 

A mídia impressa, as redes de TV, são organizações hierarquizadas. Transmitem valores e visões de seus proprietários. Em muitos momentos criam um mundo em detrimento do mundo que existe. Mas, um mundo que se quer efetivado no dia-a-dia.

As novas mídias fugiram deste controle. Na realidade dão o controle a todos os usuários. Desta forma vemos jovens no controle de elementos essenciais. Ou seja, ainda que existam jogos e que existam competições, mas também há outra organização presente e estas mídias às vezes até estimulam o não isolamento e até o altruísmo. Muitas comunidades virtuais prestam serviços uns aos outros ou trazem à baila necessidades de pessoas e grupos. A Internet trouxe as regiões para o convívio e até países. A visão de uma comunidade mundial ficou mais visível.

Será que podemos crer que estamos diante de gerações que farão conexões cerebrais diferentes? A forma de processar informações fará o desenvolvimento de cérebros funcionalmente diferentes? Como o cérebro é uma estrutura plástica e adaptável, a possibilidade de que isto esteja ocorrendo, é grande.

A nova forma de estar conectado não é apenas receber informações, mas compartilha-la. A cultura, para quem sabe utiliza-la é extrema. Fóruns e debates, livros, formas de alimentação, ciência, discussões no seio da sociedade e política fluem pelas redes. Tudo dê certo e dê errado. Hoax ou boatos, invenções e perda de tempo também.

Em contrapartida, já que estamos no início de um processo de reafirmação de características da sociedade nova, estamos ainda com problemas de afetividade. Nisto a virtualidade que omite o calor da relação, e o botão liga/desliga nos faz soltos e nos perdemos uns de outros. Temos grandes amigos que não conhecemos. E dormimos sós. E algumas vezes com estranhos.

Esta é uma adaptação que teremos de fazer. E talvez sofrer.

"Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis […] um é segurança e o outro é liberdade”.

As pessoas precisam se sentir ouvidas, amparadas e quiçá amadas. Precisam se sentir necessárias. Como vamos resolver isto com a rapidez e a indispensável pressa para o próximo assunto e a outra organização das ideias?

Afinal, qual é o paradigma que estamos quebrando? Estamos?

Acho que estaremos em um caminho mais seguro se investirmos em uma nova educação que dê conta de dar norte à geração que não quer ser uniformizada e seguir as hierarquias do passado.

Não há idade para se educar. A educação se estende por toda a vida. E a educação não é neutra. Podemos resgatar mentes que ainda querem ficar no passado. E a intenção é melhorar o presente e poder fazer pontes, sejam quais forem para o futuro. E nisto não é necessária nenhuma revolução.

A função da escola será antes de tudo ensinar a pensar criticamente. Ao invés de desenvolver memória. E terá de deter em mais metodologias para dominar a linguagem inclusive a eletrônica. A escola deverá pular os muros e vir para a rede para chegar às sociedades.

No centro da atual visão de mundo os educadores cada vez mais enxergam o holismo (a visão da totalidade) e a complexidade. Lidamos com tudo, a todo o tempo em organismos cada vez mais complexos. E não existe nada mais complexo e que dá conta de trazer a complexidade do que as redes.

A ciência avança mais por evolução do que por revolução (Kuhn).

Estamos cada vez mais conectados em redes. A educação deverá estar conectada criticamente nesta rede e esta deve exigir o entendimento da complexidade do ser humano. E da própria vida. Ou conhecemos o passado para poder chegar ao nosso tempo ou será de novo a catástrofe.

Clique aqui para conferir as referências deste texto.

Foto: Estado de Minas

________________________________________________________________________________________________________________________

José Roberto Abramo é professor de física e matemática, além de profundo estudioso do comportamento humano.

Vai Ali: