A conquista da Lua e suas mudanças

A ida do homem a Lua representou diversas modificações e adaptações políticas e sociais pelo mundo.

Ciência Fala, Zé! Tecnologia - Por José Roberto Abramo

26/07/2019

Depois da segunda Guerra Mundial, o ser humano precisava conquistar a paz. Mais do que ir à um canto recôndito da terra, ou a qualquer planeta de nosso sistema solar; ou fabricar a bomba de todas as bombas e encerrar; ou enterrar a barbárie humana para chegar a paz; mais do que a paz calada da guerra fria; mais do que a paz sem voz das ditaduras, mais do que tudo, o ser humano, precisava chegar ao plano interno, social e até antropológico onde fosse possível arguir se nossa espécie consegue viver em paz. Se fosse possível ao ser humano fazer esta indagação político-existencial, então lograríamos tentar a paz humana.

De acordo com a mitologia grega, as górgonas possuíam a capacidade de transformar em pedra as pessoas que olhassem diretamente para seus olhos. Pois os que sobreviveram de fato aos campos de extermínio, não voltaram de fato ou voltaram sem voz (Primo Levi).

Ao retornar da catarse das guerras de um século (o século XX), exibia a humanidade sua face de pedra.

A partir da 2ª grande Guerra Mundial, Huntington, percebe-se que: havia um “Choque das Civilizações”. Este paradigma afirma: os principais eventos globais ou conflitos não são mais fundamentalmente de natureza ideológica/militar ou econômica, mas de características culturais e civilizacionais; as entidades básicas do sistema internacional não são mais nem as unidades políticas definidas por estados nacionais ou blocos econômicos ou outros atores transnacionais, mas agrupamentos dos quais o mais básico, e que permite a mais abrangente demarcação entre os indivíduos, é a unidade política “civilização”.

 

As Civilizações na Corrida Hegemônica

Para o historiador e filósofo polonês Feliks Koneczny, de quem Huntington era discípulo, “os principais atores políticos do século XXI seriam civilizações e não os estados nacionais, e as principais fontes de conflitos após a guerra fria, não seriam as tensões ideológicas mas as culturais”.

A União Soviética havia lançado o primeiro satélite artificial, em outubro de 1957. Em órbita, o Sputnik, cruzou a fronteira rumo a uma nova dimensão da experiência humana. Agora a civilização humana quebra um paradigma e passa a uma civilização espacial.

Um mundo em meio à Guerra Fria, uma época de medo e divisão em que as duas superpotências, a URSS e os EUA, e o advento do satélite Sputnik alterou a natureza e o alcance da Guerra Fria. Tensão civilizacional. Quem estava conquistando o espaço, um povo ou uma humanidade? Agora a pergunta retorna, o sucesso fora um “sucesso soviético”?

A civilização russa pretendia que o Sputnik fosse um sonoro manifesto de sua capacidade tecnológica. Pronto, temos mais um conflito. Nem mesmos eles sabiam que iniciaram um tempo de respostas. Daí para frente seria uma corrida e conflito de civilizações pelo controle do espaço – a chamada Corrida Espacial.

 

A História Construída

O Sputnik era um ponto brilhante no céu: o que os russos poderiam fazer a seguir? Sim, o Sputnik mexeu com a autoconfiança dos americanos.

Em “The Heavens and the Earth: A Political History of the Space Age” (1985), Walter A. McDougall escreveu “Depois do Sputink, a Guerra Fria se tornou total, uma competição pela lealdade e confiança de todos os povos lutada em todos os tipos de empreendimento, em que livros didáticos e harmonia racial eram tão instrumentais na política quanto mísseis e espiões”.

Iuri A. Gagarin foi um cosmonauta soviético e o primeiro homem a viajar pelo espaço, em 12 de abril de 1961, a bordo da Vostok 1. Pelo lado dos EUA, John H. Glenn Jr, um piloto da marinha bate recorde de voo transcontinental mais rápido, indo de Nova York a Los Angeles. Ele estava testando aeronaves de alto desempenho no deserto da Califórnia.

Começam os testes no desenvolvimento acelerado do míssil Atlas, que no final levaria os primeiros astronautas americanos à órbita terrestre. “Tínhamos uma meta”, ele relembrou recentemente. “Colocar algo lá em cima o mais rápido possível.”

Agora havia do lado americano uma força-tarefa planejando uma resposta americana ao desafio. Em breve estaríamos diante dos voos das missões tripuladas ao espaço.

Fracassa a tentativa americana de mandar satélite ao espaço. O Satélite Vanguard exibiu falhas embaraçosas, o foguete explodiu.

 

O Legado da Tecnologia da Guerra

Wernher von Braun já estava em cena. Von Braun, um cientista de foguetes alemão que então trabalhava para o Exército dos Estados Unidos. O criador dos foguetes V-2 durante a 2ª Guerra, consegue com seu novo foguete JupiterC, em 1958, do Cabo Canaveral, lançar um satélite ou atingir a órbita.

 

Nasa – Formação do Futuro da Tecnologia

Em 1958 é criada a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço – a NASA. Missão: responder aos soviéticos.

Pelo lado soviético o Sputnik 2, muito maior, a essa altura já havia colocado a cadela Laika em órbita — um presságio dos vôos tripulados.

Os Satélites artificais, americanos ou russos, não deveriam ser surpresa. Tanto a URSS quanto os EUA já estavam embarcados no desenvolvimento de mísseis balísticos carregados de ogivas nucleares. Estes cobririam rapidamente imensas distâncias

Se ao invés do Sputnik fosse um satélite americano que fosse o pioneiro, talvez o projeto Apollo não ocorresse ou tivesse sido bem mais tarde. O advento do pioneirismo russo, atiçou a concorrência entre ambos. Tão logo o mundo se apercebe do que estava implícito no lançamento do Sputnik, o Departamento de Defesa acelerou o desenvolvimento de mísseis. E como já o dissemos, foi criada a NASA. Próximo passo, foram os russos a investir nos mísseis. Havia uma vantagem estratégica e tecnológica, a princípio, dos mísseis americanos em relação aos mísseis russos. Esta vantagem fora desenvolvida durante a 2ª Guerra Mundial. Este é um ambiente de guerra, de competição, de capacidade.

Em abril de 1961, Gagarin se tornou o primeiro ser humano a voar em órbita terrestre. Pouco tempo após a vitória dos Democratas na eleição americana. Kennedy era o presidente. Kennedy aparece diante do Congresso, e declara a urgência de dar passos mais largos um novo grande empreendimento americano; um tempo para que a nação assumisse um papel claro de liderança espacial.

E determinou:  “teremos a meta, antes do fim desta década, de colocar um homem na Lua e retorná-lo em segurança à Terra”.

Alguns projetos depois russos e americanos, três viagens lunares ficaram mais gravadas. O voo da Apollo 8, em dezembro de 1968, o primeiro a atingir a Lua, circulando-a dez vezes.

O fato de ter Kennedy anunciado a intenção de ir à Lua antes do fim daquela década gerava um sem número de questionamentos. Poderiam os astronautas lidar bem com a ausência de peso? E durante muitos dias, além do mais? A radiação interplanetária, ou o Cinturão de Van Hallen, poderia matar os astronautas? Era de fato possível pousar na Lua? Ou, onde pousar, se fosse possível? E se o terreno da Lua fosse todo arenoso como uma areia movediça?

Claro estava que era necessária uma sondagem preliminar. E quem começou esta sondagem foram, outra vez os russos. A primeira sonda não tripulada de sucesso, a Luna 2 que veio a “colidir” com o solo lunar, foi em 1959. Ainda em 1959, a Luna 3 fotografa o lado afastado da Lua. Do lado americano, depois da decisão de caminhar para alunissagem e o caminhar de um homem sobre solo lunar, o programa Ranger fez imagens o mais próximas da Lua possível, até colidir com ela. Logo após, 7 missões da Surveyor, projeto americano, que conseguiu em 1967 uma decolagem não tripulada da Lua, na volta para a Terra.

 

Outro projeto Luna Orbiter, com cinco espaçonaves entre 1966 e 1967, mapearam 99% da superfície lunar.

Outro projeto “Luna Orbiter”, com cinco espaçonaves entre 1966 e 1967, mapearam 99% da superfície lunar.

 

Os soviéticos agiram em sigilo tentando da mesma forma colocar um Homem na Lua antes dos americanos e manter a hegemonia, mas não deu certo. De todos os projetos intermediários que fizeram sem sucesso, antes da Apollo 11 americana, foi em setembro de 1968 que promoveu a visita de habitantes da terra às cercanias da Lua. Mas eram moscas, tartarugas, bactérias, sementes e plantas. A vantagem deste voo, foi de trazer estes seres vivos de volta à Terra com segurança. Isto inequivocamente pavimentava um voo tripulado até lá. Nada de nocivo ocorreu com aquelas formas de vida.

Finalmente a Apollo 11. Em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong desce da escada do módulo lunar e dá “um salto gigantesco para a humanidade”. Buzz Aldrin se junta a ele para a primeira caminhada na Lua. E  o mundo inteiro assiste à cena pela televisão.

Por causa deste feito e da capacidade de serem vistos nesta tarefa, o mundo sentia-se como que participando do pouso também.

O Salto Gigantesco

Os pequenos passos da ciência, que promoveram o salto gigantesco e tecnológico para a humanidade estavam dados.

Toda a genética ou o “DNA” de inúmeras tecnologias que utilizamos hoje no nosso dia a dia, de aspiradores de pó e tênis de corrida a telefones celulares e máquinas de ressonância magnética, estavam ali no nascedouro.

A urgência da criação ou tudo que teve de ser produzido e usado nas viagens à Lua, da sola da bota dos astronautas aos computadores de bordo, os sistemas de comunicação do Módulo Lunar, foi inventado, miniaturizado, automatizado ou melhorado em alguma forma ou circunstância, antes de ser lançado ao espaço.

Não era suficiente ir, teríamos de retornar sãos e salvos. E desta vez sem a face de pedra.

 

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