Inteligência e Realidade

Metas da Ciência - Por Vai Ali

12/07/2017

“A inteligência é caracterizada por uma incompreensão natural da vida”. Henri-Louis Bergson, filosofo e diplomata francês.

O primeiro teste que tentava mensurar a inteligência foi uma teoria de Alfred Binet, psicólogo Francês. Binet quis medir a Inteligência e criou uma teoria que buscava respostas em áreas de Linguística e Matemática com o intuito de medir a inteligência de crianças. A partir disto surgiu o teste de Q.I. do alemão Wilhelm Stern e outros testes.

A Inteligência sempre foi considerada algo inato. Seria então um produto de nossa genética.

Fato é que a educação parece conseguir aumentar o nível de Inteligência. Como a inteligência pode ser genética, ou estar prevista para um indivíduo (antes de nascer, digamos) e ser trabalhada pela educação?

É claro que existem pessoas que não tem o lapidamento da educação, mas demonstram habilidades muito interessantes. Mas, ainda assim prossegue o mistério, porque muitas pessoas que demonstram inteligência sem estudo, não desenvolvem muito além disso, enquanto seus semelhantes que demonstram padrões similares, com o estudo caminham muito mais?

Daniel Goleman é um psicólogo, escritor e PhD da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Os Estudos de Daniel Goleman demonstram que existe uma inteligência chamada de Emocional. E o controle desta inteligência é crucial para o desenvolvimento do indivíduo. Goleman afirma que o temperamento e muito circuitos cerebrais podem ser moldados, porque são maleáveis, e assim podemos trabalhar o nível de respostas ao desafio. Gerir emoções, identificar nossos sentimentos e nossos relacionamentos com os outros, não depende apenas de uma inteligência inata, mas do produto de um trabalho. As pessoas que treinam afabilidade, compreensão, gentileza e até empatia, alcançam sucesso. Ou seja, Goleman fala de habilidades emocionais, em indivíduos mais afeitos por temperamento ou naqueles onde este trabalho pode ser feito.

Goleman reconhece cinco habilidades para definir a inteligência emocional:

– Autoconhecimento emocional: habilidade de comando em nossas vidas;

– Controle emocional: habilidade de saber lidar com nossos próprios sentimentos;

– Automotivação: Habilidade de dirigir emoções objetivamente;

– Reconhecimento das emoções em outras pessoas: Habilidade de se conduzir empaticamente;

– Relacionamentos interpessoais: Habilidade de interagir com outras pessoas sabendo utilizar competências sociais. Ou, saber gerir os sentimentos dos outros. Liderança e eficiência.

 Segundo Goleman a Inteligência Emocional pode ser desenvolvida, treinada e aprimorada com a construção de novos hábitos, novas formas de pensar e se comportar.

Referência: Inteligência Emocional – Daniel Goleman, Editora Objetiva/1995.

Existem vários outros do mesmo autor.

Outro ponto de ruptura com a noção clássica de inteligência veio de Howard Gardner, psicólogo cognitivo e educacional estado-unidense, professor de Cognição e Educação e diretor do Projeto Zero da Universidade de Harvard.

Howard Gardner estudou e teorizou sobre as inteligências múltiplas em contrapartida ao paradigma da inteligência única. Para ele, a vida humana requer múltiplas inteligências a serem desenvolvidas. Sua teoria não conflitua com a noção de “capacidade de resolver problemas”, apenas a amplia e abre o leque de opções de solução de problemas múltiplos que a existência nos trás e assim múltiplas formas de agir. As inteligências mencionadas são de 8 tipos, a saber:

Lógico-matemática: É a habilidade de resolver problemas a partir da lógica, realizar operações matemáticas e investigar questões científicas. Em geral cientistas a têm desenvolvidas.

Linguística: Competência para língua falada e escrita; tendência a aprender línguas e de saber interagir com base na fala para conseguir seus objetivos. Em geral são escritores, locutores professores e juristas os mais competentes nesta modalidade de inteligência.

Musical: Tem similaridade com a inteligência linguística, mas se relaciona aos sons. É capacidade de compor e trabalhar padrões musicais. Encontrada em compositores, cantores, dançarinos, percussionistas, arranjadores e maestros.

Espacial: Capacidade de trabalhar padrões no espaço. Está presente em quem trabalha com a coordenação motora e se desembaraça no mundo visual. Bem desenvolvida em arquitetos.

Físico-Cinestésica: É uma habilidade presente para a boa execução de movimentos complexos com o próprio corpo. Se encontra em dançarinos, mímicos, atores e esportistas.

Interpessoal: Presente em quem é capaz de vislumbrar as intenções dos outros. Central para quem coordena e executa trabalhos em grupo. Vai estar presente no geral em vendedores, políticos, lideranças, clínicos e atores.

Intrapessoal: Habilidade de quem consegue “ver” suas próprias intenções, orientar seus objetivos e pensar suas emoções. Necessária para encontrar erros no próprio raciocínio. Pessoas como em psicólogos, filósofos e cientistas são dotados desta inteligência.

Naturalista: A inteligência que percebe e organiza fenômenos e padrões da natureza, como a capacidade de distinguir plantas, animais, rochas. Também é conhecida como inteligência biológica ou ecológica, portanto é encontrada entre biólogos, ecologistas ou cientista naturais de forma geral.

A Teoria das Inteligências Múltiplas esclarece, segundo seu ponto de vista, que a inteligência não será vista apenas como uma coisa em si, e assim passa a ser percebida como uma potência diante de exigências sociais e até profissionais, que o meio nos exige.

Gardner assume que em nível básico o ser humano possui todas as formas de habilidades. Ou mesmo, que estas pessoas podem desenvolver as suas inteligências em um nível relativamente “competente”.

De uma forma Geral estas inteligências dependem:

-Da dotação biológica, incluindo a hereditariedade.

– Da história de vida pessoal, incluindo experiências com os pais, professores, colegas, amigos e outros que estimulam as habilidades ou que as emperram de se desenvolver;

– Do referencial histórico e cultural, dentro da época e local e também as condições sociais a que o indivíduo foi submetido.

No entanto a Teoria das Inteligências Múltiplas ainda enfrenta críticas. Até porque nem Gardner nem ninguém sabe ao certo como medir cada uma dessas habilidades que formariam a inteligência.

 Ninguém duvida de que os Testes de QI não avaliam todos os aspectos importantes das funções mentais. Por exemplo, não conseguem medir a criatividade ou a sabedoria, mas o certo é que isso não é o mesmo que afirmar que os mesmos não servem para nada.

“Pesquisadores como Richard Nisbett, da Universidade de Michigan (EUA), tentaram compreender em que medida as diferenças de quociente intelectual dependem da genética ou do ambiente. Tomando a diferença entre brancos e negros nos EUA, Nisbett argumenta que a vantagem dos primeiros sobre os segundos é fundamentalmente consequência dos diferentes ambiente em que são criados. Um dado a favor deste argumento é que a distância média do quociente intelectual de norte-americanos de 12 anos de origem africana e os de origem europeu diminuiu dos 15 pontos há 30 anos para 9,5 atualmente”.

Referência: brasil.elpais.com

Outro argumento interessante que não tem a ver com a genética ou com o ambiente será que os que têm níveis intelectuais maiores procurarão ou ficarão associados a ambientes em que a inteligência seja positivamente valorizada e estimulada. Estudiosos observam os   chamados   multiplicadores individuais e sociais.  Os multiplicadores individuais dizem respeito a características intrínsecas à pessoa que, ao   entrarem   em   contato   com   um   ambiente propício, se   desenvolvem   ainda   mais.   Uma   criança   nascer   com   um   nível intelectual acima da média tenderá a “atrair” ambientes de qualidade semelhante ao seu nível intelectual.  O ambiente neste caso é estimulador (Dickens e Flynn -2001).

Referência

Uma outra forma de ver a questão da inteligência que não depende da hereditariedade ou do ambiente, mas de uma questão talvez evolução cultural/tecnológica, ou ainda de uma questão de interação entre componentes sociais é a que se refere a que a inteligência média medida nos testes estava aumentando em todo o mundo a um ritmo de três pontos por década. Isso significa que o (…)

quociente intelectual dos alunos do início do século XX nos EUA rondaria os 70 pontos, o que levaria a concluir que grande parte da população do país na época teria deficiência intelectual segundo os padrões atuais”. (Flynn) (…)

Estas diferenças se devem à influência do ambiente cultural e tecnológico sobre as capacidades cognitivas. O mundo se tornou mais complexo com o tempo e o ser humano se adapta às circunstâncias. E daqui para frente provavelmente será muito mais.

Quem duvida? Até uma década atrás talvez fosse impensado que pessoas de certa idade (os mais velhos, acima de 50 ou 60 ou 70 anos) estariam em computadores, celulares, e em caixas automáticos ou pagando contas pela internet e decorando ou mudando senhas. Passando e-mails ou falando pela WhatsApp.

A inteligência se questiona. Provavelmente ainda faremos muitas perguntas. O importante é perceber que já podemos falar de inteligência de uma gama imensa de pessoas, sem incorrer em erro.

Outras referências:

novaescola.org.br

scielo.br

super.abril.com.br

inteligenciaseeducacao.blogspot.com.br

sbie.com.br

psiconlinews.com

ftp.dca.fee.unicamp.br

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

José Roberto Abramo é professor de física e matemática, além de profundo estudioso do comportamento humano.

Compartilhe:

Tags: