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Nem sempre a gente vira o placar

“Você não tem cara de quem gosta de futebol”. Sim, nós não temos cara, apenas coração. E quem só vê cara…

Sou filho de dois grandes entusiastas do esporte. Mamãe conheceu papai por causa do voleibol do Sport. Papai sempre trampou com hipismo e mamãe já bateu recorde em todas as modalidades esportivas existentes no continente – de nado borboleta à purrinha, passando por bocha, bafinho e arremesso de chinelo em filho à distância. Deles, herdei a paixão pelo esporte e aprendi, como bom filho, a torcer para o melhor time do mundo: ele, tricolor; ela, botafoguense. Mediante a tanta falta de bom gosto, aprendi a ser feliz e me tornei flamenguista ainda no berço.

Por causa deles, aprendi a chorar na entrada das delegações nas Olimpíadas. Aprendi que o peso de estar perdendo uma partida e não conseguir se superar é dose. Sem ser com eles, aprendi que o importante é competir mas que, como todo bom ser humano, eu me matava de pancada se eu não ganhasse. Aprendi que disciplina é importante – e esqueci deste ensinamento logo quando virei pro lado.

Já joguei quase todos os esportes que o colégio oferecia. Fui reserva do time de futsal, fui reserva do time de handball, fui reserva do time de basquete. E com isso aprendi uma coisa: não era bom. Mas, para orgulho pessoal, depois dos 20, passei a não ser o último a ser escolhido nas peladas.

Cada um tem a Bola de Ouro que lhe convém.

Meus melhores amigos se dividem entre os que acompanham o Campeonato Brasileiro, cornetando cada Vitória x Juventude via Whatsapp, e os que não sabem nem quem foi Vampeta ou Tupanzinho. Uns assistem jogos despretensiosamente no bar; outros vão às quartas lá pra casa quase que religiosamente para jogar algumas partidas de futebol de botão – um abraço Carlão!

Na minha infância, longe dos gadgets de hoje em dia, passávamos mais tempo atrás de uma bola que de uma garota. Quebrei braço, perna, dedão e rompi tendão jogando bola na rua D. Pedro. Olhando pra trás, acho inacreditável o fato do pessoal do colégio proibir a gente de entrar nas quadras depois da aula pra bater uma pelada. Literalmente, fechavam o portão e quase jogavam a chave fora.  Será que hoje ainda é assim?

Me lembro de uma bronca que tomei do Tuniquinho, figurassa responsável pelo equipamento na Academia, quando comecei uma loba com a turma do futsal com uma bola que tava no chão dando mole – mas ela era de handball. Também não sabia perder, mas fazia questão de jogar tudo no interclasse. Eu era daqueles que o sangue subia à cabeça e vestia a camisa do time antes mesmo de dormir, só pra dar sorte. Quando entrei para minha equipe no Balão Vermelho que depois virou Jardim Glória com o Tio Lu, eu dormia com meião, short e às vezes até de caneleira (sério!), só pra não perder a hora no sábado de manhã. Graças a esse time, fui titular pela primeira vez na vida, fechando o gol e tomando eventuais franguinhos. Sempre com orgulho, ostentando a faixa de capitão e, com a ajuda de Deus-do-professor-e-dessa-torcida-maravilhosa, levando o JG ao 4º lugar da Copa Bahamas em nosso primeiro campeonato!

Com o esporte, aprendi o que era dedicação, amizade, corneta, ceticismo. Como todo flamenguista, entendi que milagres existem, e que 19º lugar na 20a rodada do segundo turno ainda pode dar título e que segundo lugar na 37ª pode dar rebaixamento. Com São Galinho, aprendi que falta na entrada da área é gaveta. Com John Paxton, aprendi que você só precisa de 3 segundos pra fazer a diferença. Com Pistorius, aprendi que superação e dedicação não são sinômino de caráter. Com a tia Fu, aprendi que xingar o oponente do lado de lá da rede não mata ninguém. Com Cristiano Ronaldo, aprendi que egocentrismo, às vezes, é superado por dedicação. E com Daniel de Faria Dias e Fernando ex-BBB… olha…. ainda não sei bem o que aprendi porque aquilo ali é muito intenso pra nós, medianinhos, compreender.

Chorei agarrado à minha camisa oficial de 91 quando Pet colocou com precisão cirúrgica aquele escanteio na cabeça de Angelim, o Mago de Aço em 2009; não segurei as lágrimas também quando Maureen Maggi saltou praquele ouro em 2008; estremeci quando, numa oportunidade do destino, descobri meu amor pela seleção da Croácia no 2×1 na Holanda e recebeu o bronze na copa de 98, quando eu tava lá no estádio; coleciono camisas de seleções; acho a entrada das delegações a parte mais emocionante das Olimpíadas; chorei com Senegal nas quartas de final em 2002; esqueci a família que não se encontrava há anos pra acompanhar lance a lance no site as atualizações escritas do mundial feminino de hanbdall; Jordan pra mim é Deus; Joe Montana tá no Olimpo; Prefero curling à balada; NY Yankees e 49ers no coração; torço pros Joãos, os Joaquins, as Marias e os velocistas paquistaneses; não torço pra seleção brasileira de futebol em hipótese alguma; gargalhei no 7×1; estive presente na final de 98, na eliminação de 96; lamentei, in loco, o ouro olímpico.

Mas nada disso fazia mais sentido terça pela manhã.

Força Chape!

Foto: Exame/Abril.com

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