Nos 151 anos do nascimento de Lênin, seu pensamento está cada dia mais atual

Fala, Zé! - Por José Roberto Abramo

20/04/2021

Prof. Lejeune Mirhan * (Este artigo foi publicado sob permissão do professor/sociólogo Lejeune Mirhan)

 

Neste 22 de abril, o camarada Vladimir Ilyich Lênin completa 151 anos de seu nascimento. Saudá-lo sempre em artigos renovados é tarefa de todo militante comunista e revolucionário. Estudá-lo é dever diário e cotidiano de todos nós. Aplicar suas orientações táticas é o que nos faz avançar sempre. Este pequeno artigo pretende mostrar a atualidade do seu pensamento.

 

LENIN

Tive a felicidade de ler um livro de Lênin – O esquerdismo, doença infantil do comunismo, escrito em 1920, uma das suas últimas obras – antes mesmo de ler O manifesto comunista, de Marx e Engels. Digo isso sem desmerecer o Manifesto. Isso foi no já longínquo ano de 1975. De lá para cá li e reli essa obra e todas as outras principais que temos traduzidas para o português.

O setor de marxismo-leninismo de minha biblioteca tem mais livros de Lênin que do próprio Marx. Jamais deixei de lê-lo e estudá-lo. Recentemente escrevi um artigo em que afirmo que “é tempo de reler Lênin”, em função de tantas bobagens que tenho lido sobre a Frente Ampla.

Nesses 46 anos de militância e estudos sistemáticos, já disse várias vezes e seguirei afirmando: não se pode ser apenas marxista. Aliás, as pessoas que se dizem apenas marxistas na verdade nem isso elas são. Por quê? Pelo simples fato que não é possível teoricamente sermos marxistas sem sermos leninistas. E digo os motivos.

O capitalismo que Marx estudou e vivenciou quase nada mais tinha a ver ou era semelhante do que o que Lênin viveu até 1920. Falamos que o capitalismo no século XIX era chamado de “concorrencial’ e nos tempos de Lênin era “monopolista”. E ele se modificou depois disso também.

Ele foi tomando a forma de “financeiro” a partir da consolidação do modelo neoliberal, a partir de 1979, com a eleição de Margareth Thatcher. Mas Lênin já apontava essa perspectiva com sua magistral obra Imperialismo, etapa superior do capitalismo, escrito em 1917, mesmo ano da Revolução.

Mas não é só por esse aspecto. O próprio Manifesto é o manifesto de um partido comunista e, em vida, tanto Marx como Engels jamais fundaram um partido dessa natureza. Mesmo Lênin, só vai fazê-lo quando volta para a Rússia, em abril de 1917, e leva as suas “teses” para o debate no Comitê Central do antigo POSDR, Partido Operário Social Democrata Russo, que era o Partido que os comunistas bolcheviques atuavam.

Margaret Tacher e Ronald Reagan

Nessa época não havia ainda Partido Comunista. Assim, Marx menciona o Partido, articula até a sua versão Internacional, mas jamais vai fundá-lo ou mesmo teorizar sobre a sua edificação. Só Lênin fará isso. E o fará de forma magistral, enfrentando correntes oportunistas no Congresso do POSDR, que concebiam um partido nem um pouco revolucionário, fluido, frouxo e que todo mundo poderia ser membro.

É bem verdade e devemos registrar isso, parte dos intelectuais que se autoproclamam marxista, são completamente avessos a qualquer militância partidária. Uns até acham isso um equívoco. Outros, se até aceitam o Partido, militam em partidos social-democratas. São completamente hostis à militância comunista no Parido Comunista.

Da mesma forma o termo que usamos de “financeirização do capital” – termo usado por exemplo por François Chesnais – era quase desconhecido por Marx. Em sua obra magistral O Capital, ele chega a mencionar “capital portador de juros”, mas não desenvolve essa temática.

O capitalismo da época de Marx, a riqueza advinha diretamente da exploração do trabalho e da apropriação de uma grande parcela da riqueza produzida. Quando o proletariado produzia mercadorias, que eram comercializadas, isso aumentava o capital dos patrões. Hoje, inventaram um sistema onde o capital/dinheiro, produz mais dinheiro sem passar pela produção, o que é pura especulação.

Marx menciona em muitas passagens e obras, a questão da tomada do poder do Estado, destruição do aparato burguês e construção de uma ditadura do proletariado. Mas, será Lênin, em sua também magistral obra O Estado e a revolução, publicado dois meses antes da Revolução de Outubro, quem teorizará sobre a passagem do estado burguês para o estado proletário e a implantação da ditadura do proletariado e do campesinato.

 

O surgimento do bolchevismo

 

O termo “bolchevique” vem do russo e quer dizer maioria, “menchevique” quer dizer minoria. Esse termo vem do histórico Congresso do POSDR realizado em 1903, onde a formatação do Partido e seu programa são exaustivamente debatidos. No seu livro Um passo à frente e dois passos atrás, escrito no ano seguinte, é na verdade o relato detalhado, a análise das decisões e propostas discutidas no Congresso. O líder dos mencheviques, que enfrentava Lênin em todas as propostas era Martov, além, claro, de Trotsky que divergia em vários aspectos (ainda que em outros pudesse votar com Lênin).

Leon Trostsky

O termo passou a ser usado porque Lênin obtinha maioria de 70% das votações em quase todas as questões discutidas. Com uma habilidade ímpar de articulações e alianças, ele aprova uma concepção de partido que chamamos de “tipo leninismo”, centralizado, disciplina férrea, militância aguerrida, que executa as decisões.

Será nesse Congresso que ele formulará as quatro condições para uma pessoa ser considerada membro do Partido: aceitar sua decisões e aplicá-las no dia a dia; concordar com o seu programa; contribuir com o Partido e militar em uma das suas bases. Martov mesmo dizia que os operários, por exemplo, em uma greve em uma fábrica, quando dirigida pelo Partido, todos eles poderiam ser considerados membros do Partido.

Discute-se também nesse Congresso a questão da consolidação de um jornal que expresse a opinião firme da direção do Partido, que resolveram chamar de Iskra (Faísca, Centelha em russo). E, registre-se, Lênin nem sempre teve maioria no comitê de redação e em certo período teve até que fundar outro jornal, para divulgar as ideias bolcheviques. Até que em certo momento, acaba por fundar seu próprio jornal, o Pravda (Verdade, em russo).

 

Lênin e a genialidade da tática

 

Não conheço outro teórico marxista que tenha desenvolvido tão bem e explicitado o significado da tática e da estratégia. Ele nos ensinou que uma aliança com diversas forças para que atinjamos um determinado objetivo estratégico guarda uma relação direta com a correlação de forças que vivemos em cada situação e momento histórico.

O arco de alianças para atingirmos as etapas da revolução – a primeira fase mais burguesa, nacional, democrática e patriótica e a segunda fase no rumo do socialismo – não tem relação com a nossa vontade pessoal. Muitos “esquerdistas” propõem a todo momento, e em qualquer situação, que os “revolucionários” devem se aliar apenas com setores da esquerda – e entendam bem: no caso do Brasil atual, existem setores da ultraesquerda que sequer aceitam o PT e o PCdoB nas tais alianças de “esquerda”. Um verdadeiro absurdo.

Vejam no caso de 1917, quando Lênin retornou à Rússia, em 3 de abril. Todos os seus escritos que foram reunidos e publicado como “Teses de Abril”, versam sobre como ele analisa o governo provisório que foi edificado após a renúncia do czar em fevereiro. Ele menciona que o governo que decorre desse momento histórico, um governo essencialmente de caráter burguês, da qual os bolcheviques não participam – é um governo que implanta medidas democráticas na Rússia, garantem amplas liberdades políticas (imprensa, sindical, partidária etc.) e isso Lênin vê como extremamente positivo, pois interessa aos comunistas as liberdades. Diga-se de passagem, a Rússia era na época o país com a maior liberdade de manifestação e expressão, seguida da Espanha (1).

No entanto, Lênin vai criticar o que ele chamou de cretinismo parlamentar, ou seja, de um lado, tinha-se o parlamento burguês e seu regime parlamentarista. De outro lado, um novo polo de poder, de democracia operária e popular, que eram os Sovietes de Deputados Operários. O mais destacado deles era o de Petrogrado que, inclusive, os bolcheviques não tinham maioria até pelo menos agosto de 1917.

Estes órgãos de democracia e poder operário e popular editavam normas e leis e contrastavam com as emanadas do parlamento burguês. Até que, em determinado momento – exatamente em abril – Lênin elabora a palavra de ordem justa que foi “Todo poder aos sovietes”. Dali até outubro, os bolcheviques dirigiram a maior revolução proletária da história cuja data que marcou foi o dia 25 (ou 7 de novembro pelo novo calendário), com um arco de alianças que envolveu várias organizações de massa, dos setores proletário urbanos, pequenos e médios camponeses.

“Todo poder aos sovietes”

Tenho dito enfaticamente: é tempo de reler Lênin, de estudá-lo. Não para aplicar mecanicamente seus ensinamentos que valiam para a sua época. Mas, para extrair lições daquelas lutas e experiências, verificar a aplicação concreta da sua tática e analisar o arco de alianças estabelecidos, comparando com a realidade concreta que vivemos em cada momento determinado. Se errarmos no arco de aliança, se errarmos na análise da correlação de forças que vivemos atualmente, erraremos na tática geral e construiremos frentes e alianças estreitas que não darão conta do recado e não atingiremos nossa estratégia geral.

Lênin acabou morrendo muito cedo, infelizmente, vítima de sequelas de um atentado que sofrera em 1920. Em 1922, com apenas 52 anos, sofrera um AVC, que o deixou muito debilitado, vindo a falecer em janeiro de 1924, privando-o de um momento muito especial de consolidação da revolução socialista na URSS.

Sua morte prematura aos 53 anos deixou vários projetos sem que pudessem ter o seu desenvolvimento e o curso natural, pois os que o sucederam na direção do Partido e do Estado soviético não souberam aplicar as suas propostas.

E sobre isso, digo claramente sobre a Nova Política Econômica, chamada pela sigla de NEP que é o desenvolvimento do sistema capitalista, sob a condução de um estado de orientação socialista, dirigido por um partido comunista, que é exatamente o que a República Popular da China vem fazendo nesse momento. Quiçá Lênin tivesse conseguido implantar essa nova política econômica da NEP, a URSS não tivesse cometido os erros em sua economia excessivamente estatizante.

Como uma Rússia ainda feudal, com 70% de sua população analfabeta, um proletariado muito pequeno, poderia passar diretamente ao socialismo? Se para irmos ao socialismo é preciso desenvolver e tirar todas as consequências do desenvolvimento do capitalismo – o que também acarreta o desenvolvimento da própria classe do proletariado – ou seja, como sem desenvolver o próprio capitalismo, os líderes soviéticos passariam diretamente ao socialismo? Mas, esse é tema para outro artigo.

Neste momento que completamos 151 anos do nascimento de Vladimir Lênin, líder teórico marxista que nos guia a todos e dirigente da maior experiência revolucionária jamais realizada pelo proletariado mundial, que foi a revolução Bolchevique de Outubro na Rússia, temos a convicção que estudar suas principais obras, ler seus artigos e escritos, nos ajudarão a fortalecer nosso pensamento marxista-leninista.

Em tempo: venho ministrando todas as quartas-feiras às 18h, no canal do Rogério Matuck, um curso sobre o pensamento de Lênin. Já estamos com várias aulas ministradas, que ficam disponíveis em uma play list do canal. Eu estou resumindo todas as suas obras mais importantes. Pretendo, a partir dos meus roteiros e manuscritos, escrever um livro intitulado Lênin para principiantes, na mesma linha do que fiz com o Marx para principiantes (quem se interessar pode clicar aqui para adquirir: https://bit.ly/31zaWf6). Aos que queiram assistir as minhas aulas, pode acessar o link: https://bit.ly/2QlK8fn que será nesta próxima quarta, dia 24 de abril às 18h. Abraços em todos/as.

 

  1. A explicação do fato que a tal Gripe “espanhola’ tinha esse nome, não é pelo fato que ela tenha começado na Espanha, mas pelo fato que esse era um país que noticiava esse assunto, ao passo que nenhum outro o fazia.

* Sociólogo, professor universitário (aposentado) de Sociologia e Ciência Política, escritor e autor de 14 livros, é também pesquisador e ensaísta. Atualmente exerce a função de analista internacional, sendo comentarista da TV dos Trabalhadores, da TV 247, da TV DCM, dos canais Outro lado da notícia, Iaras & Pagus, Rogério Matuck, Contraponto, Democracia no ar, Conexões, todos por streaming no YouTube. Publica artigos e ensaios nos portais Vermelho, Grabois, Brasil 247, DCM, Outro lado da notícia, Vozes Livres, Oriente Mídia e Vai Ali. Agradeço à Ademir Munhóz pelo trabalho de transcrição de meus programas internacionais (ademir@piracaihoje.com.br). Todos os meus livros podem ser adquiridos na Editora Apparte no endereço: www.apparteditora.com.br e as compras podem ser parceladas em até seis vezes sem juros. O meu site pessoal é www.lejeune.com.br, onde estão todos os meus artigos, a maioria de política internacional e também política nacional e Sociologia brasileira. Recebo e-mails no endereço: lejeunemgxc@uol.com.br. Meu Zap é +5519981693145. Meus endereços nas redes sociais são: Facebook: www.facebook.com/lejeune.mirhan; Instagram: @lejeunemirhan; Twitter: @lejeunemirhan; Youtube: lejeunemirhan.

 

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