O que é necessário para se tornar filósofo?

O que é ser filósofo - filosofia

Filosofia em Movimento - Por Vai Ali

16/04/2020

É curioso como atualmente a filosofia possa ser tão banalizada e pouco compreendida. Filosofar é usado como sinônimo de falar com palavras difíceis sobre pensamentos subjetivos e até mesmo sem sentido.

Embora muitas vezes não reconhecemos o seu valor, filosofias do passado ainda hoje são extremamente atuais, questões respondidas por Sócrates e Aristóteles, por exemplo, nos permitem entender o mundo, nosso papel e nos oferecem ferramentas para vivermos melhor.

Questionar e refletir a respeito do que nos é apresentado é um dos conceitos de filosofia, podemos dizer que sua função é formar o espírito crítico e virtuoso humano, capacidade essa que nos diferencia dos animais.

Nós seres humanos somos a única espécie que a partir da consciência da nossa mortalidade e finitude nos colocamos a pensar sobre o significado da vida, da morte, de onde viemos e para onde estamos indo.

Mas afinal, o que é necessário para ser um filósofo? Qualquer pessoa, independentemente de possuir formação em filosofia, pode ser considerada como filósofa?

Autoconhecimento e vida filosófica

Chegamos ao quarto e último texto da série “Autoconhecimento, um caminho espiritual” que analisou atitudes filosóficas ocidentais e orientais como forma de evidenciar uma pedagogia mística em que racionalidade e espiritualidade são complementares na busca por desenvolvimento humano e felicidade.

Hoje vamos entender como um “modo de vida” está relacionado ao filósofo clássico, uma maneira filosófica de viver e enxergar o mundo que proporciona autoconhecimento e o desenvolvimento das virtudes.

Sócrates é um desses filósofos clássicos, sua maneira de filosofar foi revolucionária devido a sua grande dedicação em incentivar a busca reflexiva pelo conhecimento da alma, tanto que ficou conhecido pela frase:

 “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum” – frase do Templo de Delfos.

Podemos caracterizar o autoconhecimento como um processo transformador vivido pelo ser que se dedica ao conhecimento de seu eu interior, também entendido como sua alma.

Pode-se dizer que, para Sócrates, o ponto de partida da busca por conhecimento sobre si mesmo é a tomada de consciência da ignorância.

A alma é fonte de toda sabedoria, entretanto, quando está na condição transmigratória (encarnada), os sentidos criam ilusões que impedem de ver com nitidez a realidade.

Embora todo mundo esteja buscando a felicidade e o bem em seus atos, a ignorância sobre a verdadeira identidade é responsável por ocasionar erros e vícios.

É quando nos voltamos para alma que percebemos que as ideias eternas outrora conhecidas ainda estão presentes, e assim nos libertamos de todo o sofrimento decorrente da ignorância.

Vale ressaltar que, por mais que tenhamos lido, escutado e estudado sobre essas ideias, não tomamos consciência sobre nossa verdadeira realidade de uma hora para outra, esse discernimento é gradual e exige prática.

A filosofia é justamente esse caminho de transição, pois o filósofo não é um sábio, mas aquele que ama a sabedoria e a busca incansavelmente. À medida que ele conhece, se transforma.

Ser filósofo implica em pensar, sentir e agir de maneira harmônica, traduzindo seu conhecimento em uma maneira de viver. Portanto, não seria um diploma que garantiria o título de filósofo.

Sócrates foi considerado o homem mais sábio da Grécia não por saber mais ou por receber títulos, mas sim, por saber que nada sabia.  

 “Pus-me a considerar, de mim para mim, que eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, ao contrário, nenhum de nós sabe nada de belo e bom, mas aquele homem acredita saber alguma coisa, sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber.” PLATÃO

O filósofo grego acreditava que o pior dos males que pode acometer o ser humano é o de se considerar sábio.

Uma vez que pensamos já possuir a verdade em si, não mais a buscamos conhecer, dessa forma nos esvaziamos do espírito crítico filosófico

A sabedoria não está relacionada à quantidade de conhecimento adquirido, mas sim à modéstia intelectual. Devido sua característica prática, todas as virtudes apresentam-se como parte constituinte da sabedoria. 

Podemos dizer que a virtude não poderia ser outra coisa senão o próprio conhecimento, um indicativo da proximidade da alma com o Bem Supremo.

Ao mesmo tempo em que o ser realiza ações que são próprias da alma, de maneira virtuosa, simultaneamente desenvolve um maior domínio do corpo e da temperança, fazendo com que se aproxime da ciência do bem.

Aristóteles em seu livro Ética a Nicômaco fala da virtude com meio para a felicidade, pois toda virtude quando colocada em prática, gera em nós a possibilidade de autoconhecimento.

Ou seja, ao se buscar um referencial interno, que funcione como uma ferramenta dentro do cotidiano, as ações tendem a ser mais belas, boas e justas.

A filosofia, quando abordada de forma prática, é formadora, ajuda a conhecer a si mesmo, a entender o sentido da vida e a desenvolver as potencialidades humanas.

O Filósofo Oriental Indiano

Podemos dizer que o discípulo da tradição indiana Advaita Vedanta também é um filósofo clássico, pois apresenta características muito parecidas com a que encontramos na Grécia. 

O filósofo hindu é acompanhado e auxiliado pela prática de uma forma de vida, pois esse não deve tornar-se apenas uma biblioteca filosófica, mas sim, se transformar a ponto de manifestar o conhecimento como uma habilidade.

Através de um conjunto de exercícios o filósofo tem como objetivo ir muito além da pura interpretação de texto, ele deve exercitar-se a viver, consciente e livremente.

Segundo a filosofia indiana, a tarefa primordial e irremediável do ser humano consiste em compreender como age e transcender.

Somente aqueles que tomam consciência do verdadeiro eu deixam de atender as vontades egoístas e podem atingir a libertação, conhecida como moksha.

A filosofia deve ultrapassar os limites do indivíduo e fazer com que ele se reconheça como parte de algo transcendente, que transcende o físico e sua personalidade.

Filosofia Universal 

Através da relação entre as principais atitudes filosóficas ocidentais e orientais é possível resgatar o sentido clássico de filosofar, não apenas como discurso, mas como um método, que proporciona viver e encarar o mundo de uma nova perspectiva.

Para os filósofos gregos e indianos a filosofia apresenta-se como um modo de vida, no qual comportaria dedicar-se não somente a vida intelectual, mas também a vida espiritual.

A filosofia oriental sustenta a relação de não oposição entre fé e racionalidade, corroborando a ideia de que por intermédio de meios intelectivos racionais é possível alcançar objetivos de caráter unicista e transcendente.

A real função da filosofia, independente do local e tempo histórico, é despertar a vontade de conhecer, começando de dentro para fora.

O filósofo não é um sábio, mas aquele que busca o saber e tem plena consciência que ainda há um longo caminho de dedicação e devoção pelo frente.

Encarar a máxima socrática, “só sei que nada sei” como verdade é somente o momento inicial de uma vida filosófica.  

A partir dela façamos um resgate as perguntas fundamentais para que, cada um à sua maneira, possa se questionar sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos

Mantendo viva a essência do fazer filosófico. 

Quero ser filósofo, por onde começar?

Ainda hoje existem escolas de filosofia que se assemelham a Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles. Em Juiz de Fora podemos encontrar a Nova Acrópole, uma organização internacional presente em 60 países fundada em 1957 pelo professor Jorge Ángel Livraga.

A Nova Acrópole atua nas áreas de filosofia, cultura e voluntariado e visa promover um ideal de valores permanentes para contribuir à evolução individual e coletiva. 

Através de seus programas de estudos filosóficos abarca os mais importantes sistemas de pensamento do Oriente e do Ocidente, com enfoques práticos, acessível a todos que desejam se aprofundar.

Você pode conheça mais sobre a escola de filosofia no site  ou através de seus conteúdos, podcasts e vídeos no youtube.

assinatura luiza

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