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O tempo de todas as intolerâncias

Vivemos o tempo das intolerâncias. Tem gente com intolerância ao glúten, tem gente com intolerância à lactose, outros aos corantes e conservantes. Alguns são intolerantes com outras intolerâncias. No ramo da política, no país atualmente padecemos das intolerâncias nunca dantes vividas ou ao menos comentadas de petralhas versus coxinhas. Termos que por si sós nos remetem à uma intolerância semântica, porque adornada de implicâncias quanto ao ser e ao agir, conteúdo ideológico de difícil identificação, ficando ao cargo de uma opção de valores parte à parte que não é visível do lado de fora. Mas, antes não tínhamos estas considerações à respeito do outro, e ela por si mesma nada define de especial. Por exemplo, tem algo a ver com ser ideologicamente afinado com a esquerda ou a direita? Não, é apenas uma intolerância. Embora se possa crer que o Petista chamado de petralha, seria um ser de esquerda.

Mas no Brasil já tivemos a intolerância entre Chimangos (ou Ximangos) e Maragatos, no sul. Maragatos era termo que tinha uma conotação pejorativa atribuída pelos legalistas aos revoltosos que deixaram o exílio, no Uruguai, e entraram no RS à frente de um exército. Eram tratados como que estrangeiros. Ximango seria a ave de rapina, tipo Falcão, semelhante ao carcará. E que é um “Epíteto” depreciativo dado aos liberais moderados pelos conservadores, isto lá no início da Monarquia brasileira. O lenço vermelho identificava o Maragato. O lenço branco identificava o Pica-Pau e o Chimango (Situação). Eram “credos políticos dessemelhantes” e antagônicos que a história explica, mas que seria uma idiossincrasia da federação do Sul. Leonel Brizola usou o lenço vermelho dos maragatos como herança de seu pai.

A intolerância elege “ódios”.

O primeiro e mais visível é o ódio de classe. Não posso usar a mesma indumentária. O mesmo conjunto de regras de classes mais baixas não me diferenciam. Ai vem a mesma TV, mesmo espaço geográfico em aviões e lugares visitados, mesmo tipo de uso, de celulares e outros eletrodomésticos, e o principal, o que mais impacta, o mesmo padrão de automóveis.

O ódio regional. Sua fala “me irrita”. O que você come, como fala, seu sotaque. Suas vestes, seus princípios. Se você é de um estado mais atrasado ou tido como tal, você é execrado, mesmo que seja PHD em física das partículas, formado pelos grandes centros na Suíça.

O ódio oculto e nem sempre externado contra evangélicos, e a interessante recíproca, porque alguns evangélicos são totalmente avessos às práticas de outrem que não queiram se salvar em sua igreja. Embora nem sempre isto descambe para um processo mais violento, de parte a parte. E, diga-se de passagem, contra os evangélicos há mais intolerância do que deles contra os não evangélicos. Outrossim, são estes que tentam uma casta política, elegendo deputados e senadores. Algumas religiões pentecostais ou neopentecostais repetem a xenofobia das igrejas antigas, onde se dizia que fora da “Igreja”, não há salvação. Na idade média algumas religiões perseguiam pagãos, ainda que fossem crentes de outra religião.

A Igreja Católica, cujo nome vem do grego "katholikos" que significa universal, esteve na mira de alguém muito esperto que vem e cria também a sua Igreja Universal. E vai ser dono de TV. Este não pratica a intolerância porque quer audiência.

As religiões de matriz africana são as mais “intoleradas”, onde qualquer menção recebe a pecha de “macumbeiro” e são discriminadas por evangélicos mais até do que por católicos.

Mas temos matriz de ódio, a intolerância aos gays, ou as intolerâncias de gênero.

As matrizes de ódio têm em comum a dificuldade de assimilar o diferente. Assim também se dá com o ódio aos de outra nacionalidade, se significar uma invasão por necessidade, como tem sido com Haitianos ou com Nigerianos.

Enfim, roubo o texto de Carta Capital, que nos diz:

“Este ódio nos adorna como costume. Somos uma sociedade acostumada à intolerância e que é cega à igualdade. Uma sociedade intolerante não é apenas incapaz de conviver com as diferenças. É uma sociedade que cria hierarquias, as quais são constantemente pronunciadas e criam, por sua vez, uma enorme desigualdade de poder”.

Vai Ali: