Por Matheus Andrade
Juiz de Fora tem revelado grandes talentos na literatura nos últimos anos. E o que impressiona é a pouca idade desses novos escritores. Estudantes universitários cheios de criatividade, fôlego e a coragem de enfrentar um mercado editorial mais do que concorrido, despontam com suas obras que vão desde livros de autoajuda, a romances adolescentes com temáticas muito próprias do contexto social das suas idades.
Um desses corajosos é Vinícius Grossos, carioca de 22 anos, estudante de Jornalismo da UFJF, autor de “Sereia Negra”, seu primeiro livro que narra a história de Inês, primeira sereia negra do mundo desses seres aquáticos, e de “O Garoto Quase Atropelado”, história que tem um adolescente no limiar da depressão e que começa a escrever um diário para expressar seus sentimentos e impressões do mundo e encontra em três amigos, respostas e motivos para continuar.
Prestes a lançar seu próximo livro, primeiro romance de temática LGBT da Faro Editorial, “1+1: A Matemática do Amor”, que foi escrito com Augusto Alvarenga, Vinícius bateu um papo com o Vai Ali e nos contou sobre militância, responsabilidade social, reconhecimento do público, e outros temas até densos demais para a pouca idade do escritor, mas facilmente digeridos por ele, indicador inegável da maturidade que Grossos demonstra.
Vai Ali: Ser um escritor com tão pouca idade te traz que tipo de responsabilidade social? É nela que seus livros se apoiam?
Vinícius: A verdade é que eu não penso muito num sentido de responsabilidade social, propriamente dito. Eu gosto de escrever histórias que sejam tocantes, verdadeiras, com personagens particulares; com características que saiam do padrão. Os meus livros não trazem uma lição no final. Não trazem um discurso do que é certo ou errado, por assim dizer. Há apenas personagens, com atitudes boas e ruins, e suas consequências (ou não) disso tudo. A reflexão em si, cada leitor leva para si.
Vai Ali: Seu primeiro livro, Sereia Negra, mergulha em lendas gregas e brasileiras. Você sente falta desse resgate cultural na literatura infanto-juvenil?
Vinícius: Eu acho que a cultura nacional é muito rica e poderosa. Apesar da fantasia não ser totalmente o meu foco, na hora de criar a história, eu quis fazer algo que mesclasse o melhor dos dois mundos: a cultura nacional e internacional. Então, no trabalho de pesquisa, acabei mesclando as lendas de sereias que há no Brasil, com a cultura das já tão conhecidas, como a Ariel, e uma pitada de cultura grega, que foi o berço da criação desses seres. Fiz isso porque além de achar que enriqueceria mais a história, foi estimulante para a minha imaginação e criatividade.
Vai Ali: Juiz de Fora está revelando grandes talentos, um deles é você. Falta incentivo à literatura e aos escritores que estão começando?
Vinícius: Falta sim. E muito. Mas não apenas em Juiz de Fora, mas sim no Brasil todo. É triste você sentir que está embarcando numa profissão fadada a não dar tão certo assim. As pessoas não leem tanto no Brasil. Porém, eu escrevo porque sinto necessidade disso para completar partes de mim. É quase uma compulsão. Preciso criar para ser feliz. Mas, obviamente, não posso virar as costas para tudo. Nas Bienais que acontecem pelo Brasil, o público jovem é disparadamente os mais presentes. Ou seja, uma geração forte de leitores está nascendo e se tornando cada vez mais presente no meio literário.
Vai Ali: 1+1: A Matemática do Amor será o primeiro romance de temática LGBT da Faro Editorial. Conta pra gente sobre esse frio na barriga e seu envolvimento na militância dessa comunidade.
Vinícius: Na verdade, com sinceridade, quando eu crio uma história, eu não penso profundamente sobre militância e toda a complexidade disso. Eu sempre fui criado em meio a diferenças, então isso fez de mim uma pessoa que não vê problema nas particularidades, em geral. Sendo assim, me sinto confortável em escrever sobre qualquer tema… Por exemplo, quando escrevi Sereia Negra, a Inês é realmente negra porque a minha avó é negra. Isso sai de mim de uma forma muito orgânica: já faz parte do meu processo criativo fazer personagens que saiam do óbvio. Mas é claro que acho importante a representatividade. Muito mesmo. Só quero dizer que para mim essa pressão de colocar personagens de etnias diferentes ou outras orientações sexuais não acontece, porque minhas personagens são ímpares, independente do que esteja sendo discutido no momento ou não. Por exemplo, na hora de criar a história de 1+1, não foi tipo: ‘Vou escrever uma história sobre dois meninos gays’. Soou mais como: quero escrever uma história de amor, e coincidentemente, na hora de criar os personagens, eram dois meninos. Tudo é feito de uma forma natural. Mas, pensando no sentido geral, espero que isso ajude a tornar a literatura e os outros meios de comunicação lugares mais abertos à diversidade.
Vai Ali: O Garoto Quase Atropelado foi um grande sucesso na Bienal do Rio. Do título do livro surgiu até um fã clube, como é lidar com esse reconhecimento crescente?
Vinícius: É insano. É algo que eu imaginava (sonhava) que aconteceria comigo depois de anos. Não, sei lá, com um ano e poucos meses de carreira. Mas tudo o que consigo sentir é uma gratidão sem fim. Meus leitores gostam de mim porque minhas histórias os tocam, e se mantém fiéis porque gostam de mim de graça. E todo esse apoio é o que me faz, verdadeiramente, querer ser melhor a cada dia.
Vai Ali: Muitos talentos para a literatura podem estar escondidos por aí. O que você diria para essas pessoas que têm o sonho de serem escritores, assim como você?
Vinícius: Algumas dicas muito importantes: NÃO DESISTAM. Eu recebi mais de vinte ‘nãos’, e questionava diariamente meu potencial. Mas não desistam, e sejam corajosos de darem o primeiro passo. Nem que seja publicação independente, mas comece. A partir do primeiro passo, o universo conspira a favor, se for para ser. E ahhhh, leia muito! Sempre leia.
Você pode acompanhar mais novidades sobre o Vinícius no site:https://viniciusgrossos.wordpress.com/