Parque ou Praça Halfeld? | Memórias JF

Parque Halfeld

Memórias JF - Por Vai Ali

30/07/2020

Todos os “Parques” são murados ou gradeados, quando se “retira” esses elementos protetivos o que antes era parque agora se torna uma praça, pois perde as características identificadoras de privacidade que um parque oferece. Como exemplo pense no Parque da Laginha, cercado, com horário para abrir e para fechar. Parque do Museu Mariano Procópio, da mesma forma. No Rio temos vários “parques”, todos gradeados, assim como acontece em Belo Horizonte, São Paulo, etc.

O Parque Halfeld também nasceu “gradeado”. Conheça a sua história: desde os primeiros croquis traçados nos primórdios do surgimento da cidade que o “Largo Municipal” ou “Largo da Câmara” esteve presente na cartografia urbanística. Durante muitos anos era apenas uma grande área descampada, um local destinado à apresentação de circos, touradas e cavalhadas, única ocasião em que o espaço recebia uma capina.

Poder Público e o Parque

Parece que o Poder Público Municipal não considerava prioritário oferecer atenção a esse espaço tão grande. Não havia calçamento e a Câmara Municipal a princípio recusou-se a atender a indicação do Dr. Marcelino de Assis Tostes para que a área fosse ajardinada sob o sistema inglês de relva e árvores. Somente após insistente cobrança é que os Vereadores aceitaram a realização de obras no Largo Municipal.

Foi contratado o arquiteto Miguel Antônio Lallemant para realizar o projeto e a planta para o ajardinamento da praça, sendo celebrado contrato para execução das obras – incluindo o gradil – com os senhores Júlio Monfá e André Alfeld (sobrenome sem o “H” mesmo, por ser outra família que nenhuma relação tinha com o fundador da cidade Henrique Halfeld).

Parque Halfeld

No final do ano de 1880 foram entregues as obras como concluídas, mas não foram aceitas pela Câmara Municipal, pois foram encontradas muitas irregularidades que, depois de levantadas oficialmente, serviram para barganhar com os empreiteiros que se viram obrigados a sanarem todas as imperfeições detectadas caso de fato desejassem receber pelos seus serviços.

Espaços para o cidadão –  Por incrível que pareça também surgiram protestos de parte dos cidadãos que eram contrários ao projeto, isto é, não aceitavam que o local fosse transformado num paisagístico jardim, afinal, onde seriam realizadas as atividades circenses? Aonde a população iria patinar nos rincks que ali ocasionalmente eram montados? Cada um com seu interesse.

Obra entregue, finalmente a cidade possuía sua primeira “praça” ajardinada. Com o tempo e a falta de investimentos públicos em sua conservação, o Largo Municipal foi perdendo a sua finalidade e sendo publicamente abandonado, até que no ano de 1900 o Coronel Francisco Mariano Halfeld (filho de Henrique Halfeld) tomou para si a responsabilidade de restaurar aquele local.

Pantaleoni Arcuri

Esse mecenas contratou a Cia. Pantaleone Arcuri para realização dos seguintes serviços: levantamento de canteiros, abertura de novas ruas e fechamento de outras, construção de um pavilhão central e casa para o guarda, criação de repuxos, lagos, pontes e casas rústicas, reforma do gradil, colocação de estátuas e peças de decoração e todas as obras de embelezamento previstas no rebuscado projeto, sobretudo com o plantio de grande quantidade de árvores e diversidade botânica – ressalte-se essa grande riqueza do Parque Halfeld, pois nele são encontradas espécies variadas de árvores e plantas, entre elas o “Pau Brasil”.

Assim a “praça” passou a denominar-se “Parque Halfeld” em homenagem ao seu benfeitor Coronel Francisco Mariano Halfeld, que além de pagar pelas obras de remodelação da praça deixou como doação à Câmara Municipal significativos recursos financeiros, por meio de Apólices da Dívida Nacional, destinados à conservação permanente daquele aprazível jardim oferecido à população de Juiz de Fora.

Originalmente ele era gradeado em toda a sua extensão, havendo horário para sua abertura e para o fechamento. Ao serem retiradas as grades, além de perder sua originalidade como “Parque” e liberar o vandalismo, o local passou a possuir as características de uma “praça” comum.

 

Por Roberto Dilly – Historiador e Diretor do Museu do Crédito Real. Juiz de Fora – MG

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