Wagner Gomes, você está presente! Eternamente!

Sociologia - Por José Roberto Abramo

11/08/2021

Prof. Lejeune Mirhan *

(Neste artigo o sociólogo e professor homenageia um companheiro de lutas. Com sua permissão, publicamos.)

Wagner Gomes

Acho que todos os militantes revolucionários conhecem Bertold Brecht, em especial uma poesia em que
ele fala de pessoas que militam por alguma causa. Mas, ao final da poesia, ele menciona aquelas
pessoas que lutam a vida inteira, dizendo que essas são as imprescindíveis. Publico a íntegra a seguir:
Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida; estes são imprescindíveis.
Faleceu ontem, dia 10 de agosto, uma dessas pessoas imprescindíveis. Wagner Gomes, trabalhador
metroviário, 63 anos, aposentado, dirigente sindical e comunista, foi acometido de um infarto fulminante,
que ceifou a sua vida de dedicação às lutas do povo e dos trabalhadores. O movimento sindical
brasileiro, e o movimento comunista em particular, encontra-se em um profundo luto.
Convivo anos a fio com o amigo e camarada Wagner e presto-lhe minha última homenagem com esta
pequena nota necrológica. Wagner viverá eternamente em nossa memória e, de inúmeras formas, tudo
faremos para eternizar a sua memória.
Conheci Wagner Gomes quando comecei a trabalhar em São Paulo, em julho de 1987, onde fiquei por
trinta anos seguidos até me aposentar. Já era à época um jovem professor universitário de Sociologia
com 29 anos. Wagner era um ano mais jovem. Ele já era nossa maior projeção nacional no PCdoB de
sindicalismo classista, como dirigente dos metroviários, ao lado do também amigo e camarada Nivaldo
Santana, ex-presidente do SINTAEMA.

A partir de 1989, passei a integrar a Comissão Sindical Estadual, sob comando do também amigo Jamil
Murad, onde estreitamos ainda mais as relações. Fundamos a Corrente Sindical Classista, que foi por
um pequeno período, uma corrente socialista e comunista internas na Central Única dos Trabalhadores,
da qual foi vice-presidente nacional por quatro anos.
Nossa convivência se intensifica ainda mais quando passei a integrar a Secretaria Sindical Nacional do
Comitê Central do PCdoB, a partir de 2007, primeiramente sob o comando do camarada João Batista
Lemos e posteriormente, pelo próprio Nivaldo Santa. Lá fiquei sete anos seguidos. Tínhamos reuniões
quase que semanais. Wagner compareceu em muitas delas, já que sua presença obrigatória era só
quando reuníamos na formação plena da Secretaria. Mas, por ele ser de São Paulo, os encontros foram
muitos.
Wagner tinha uma particularidade que jamais vi em nenhum quadro comunista nacional do Partido.
Ainda que não fosse um elaborador e teórico orgânico do Partido, era estudioso dos nossos
documentos e tinha uma capacidade muito peculiar de absorvê-los em profundidade e – o que é mais
importante – defender o seu conteúdo da forma mais simplificada e acessível para as amplas massas.
Jamais vi algum sindicalistas que fosse tão objetivo, prático e de fala resumida como Wagner. Imbatível
nesse quesito da objetividade. Não gostava daquelas reuniões intermináveis. Ele queria decisões
práticas e concretas. Nos animava a todos. Almoçávamos ou jantávamos juntos muitas vezes, sendo
das companhias mais prazerosas que tive na vida.
Por essa trajetória de ex-presidente do Sindicato dos Metroviários de SP e vice-presidente nacional da
CUT, Wagner passou a integrar a direção plena do Comitê Central do PCdoB e a Comissão Política
Nacional, além de outros cargos e tarefas que ele teve e as executou com esmero.
Uma dessas passagens minhas com Wagner foi talvez a mais marcante. Minha primeira viagem à
Palestina, para participar de um Congresso da Central Sindical Palestina, que também é – como a CTB
– filiada à Federação Sindical Mundial. Wagner me chama na sede nacional da entidade na avenida
Liberdade e me solicita que eu represente a Central e ele pessoalmente nesse evento.

Talvez tenha sido o maior presente que tive na vida. Já estudava o Oriente Médio e o árabe havia mais
de 30 anos e jamais havia visitado um só país árabe. Foi uma grande emoção. Falei na plenária final
com as delegações estrangeiras tendo lido um documento em seu nome (em inglês), posteriormente
publicado no jornal da Central.
Wagner teve uma experiência eleitoral. E fez muito bonito. Na eleições para senador em São Paulo, no
dia 6 de outubro de 2002. O PCdoB inscreveu Wagner Gomes para uma das duas cadeiras senatoriais
em disputa no maior estado do país. Foi o ano que SP elegeu Lula presidente e a primeira vaga ao
senado ficou com Aloísio Mercadante, com mais de 10 milhões de votos. Por circunstâncias muito
particulares e nomes muito fortes concorrente à segunda vaga, fizeram Wagner ficar como terceiro
suplente.
Romeu Tuma foi eleito para a segunda vaga, Quércia (PMDB) primeiro suplente e José Aníbal (PSDB)
segundo. Wagner obteve a estrondosa votação de 3.473.198 votos. Provavelmente a maior votação que
um sindicalistas já deve ter tido na história brasileiro. E não era um sindicalistas qualquer. Era um
sindicalista comunista, profundamente comprometido com a modificação do sistema capitalista e a
construção do socialismo.
No mesmo ano que passei a integrar a SSN/CC, em dezembro de 2007 fundamos a Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB, no SESC Venda Nova, em Belo Horizonte, Minas.
Mais de 1,2 mil delegados – eu era um deles – fundamos a que é hoje a terceira maior central sindical
do país (com a recente fusão com a CGTB). E Wagner – por unanimidade – foi eleito seu primeiro
presidente da diretoria provisória de dois anos. Seria reeleito mais duas vezes.
Seguiremos aplicando seus ensinamentos e, mais do que isso, seguiremos seu exemplo e modelo de
sindicalista profundamente comprometido com as reais interesses dos trabalhadores em geral e do
proletariado revolucionário em particular, da qual Wagner, através do nosso Partido, era um dos
melhores representantes.
Desejo à camarada Cris, aos seus dois filhos e um netinho, os meus mais profundos pêsames,
extensivo a toda família enlutada, desejando que tenham forças para superar esta primeira e dificílima
fase do luto.
Que seja eterna a sua memória!
Descanse em paz, meu velho e bom amigo e camarada


* Sociólogo, escritor, professor universitário (aposentado), pesquisador e analista internacional.

Leia Também:

A mudança da estratégia geopolítica mundial dos Estados Unidos

Compartilhe: