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Quem é o novo vilão no cinema de terror contemporâneo?

Quem ai nunca se pegou dando pulos no sofá ou soltando gritinhos (ou gritões) quando nos
deparamos com alguma cena assustadora em um filme?

O terror/Horror é um gênero cinematográfico que procura essa reação emocional forte e negativa dos espectadores, ao brincar com os medos primários da audiência.
Inspirado na literatura macabra, principalmente do século XIX, de autores como Edgar Allan
Poe, H.P. Lovecaft, Bram Stoker e Mary Shelley, os filmes de terror têm mais de um século,
caracterizados por cenas que assustam o espectador. Foi a partir da influência do movimento
cinematográfico do expressionismo alemão já na segunda década do século XX que o cinema
de terror ganhou força como um gênero próprio.


Tornou-se um cinema de radicalização das emoções humanas através de personagens doentios, reais e imaginários, situações tenebrosas e imagens chocantes. Os temas do macabro e do sobrenatural são muito frequentes. O terror também se pode sobrepor com os
gêneros de fantasia, ficção científica, sobrenatural e o thriller.
Para quem não sabe, o primeiro filme de terror realizado, não foi Nosferatu de 1922, mas sim
o curta-metragem A Casa do Diabo (1896), do pioneiro diretor francês Georges Méliès.
Como grande apaixonada pela sétima arte e em especial do gênero terror, é fundamental
entendermos onde começamos para vislumbrar para onde iremos. Não concordam?
Partimos dos clássicos, principalmente literários e baseados em figuras míticas e muitas vezes
sobrenaturais ou inumanas. O século XX foi cheio de grandes clássicos que exploraram nossos
medos mais primários. Afinal, que não teria medo de um vampiro como Drácula?
Contudo, notamos com o advento do século XXI uma mudança gradual e constante na forma
com que o terror é retratado pelos filmes. Agora o homem é o grande vilão e monstro dessas
narrativas.


Um dos grandes nomes do cinema contemporâneo, Jordan Peele, criador de obras como Corra
e Nós, é prova cabal dessa mudança. Seus “vilões” são pessoas de carne e osso com
motivações egoicas e egoístas. Inclusive um dos grandes destaques na cinebiografia de Peele é
trazer para dentro das estórias, contextos sociais, como o racismo.
Outro nome aclamado e que também comprova esses novos tempos do cinema de terror é Ari
Aster, diretor de Hereditário. Um dos pontos mais interessantes da trama são os conflitos
familiares envolvidos e a dinâmica da casa, extremamente disfuncional e problemática. Porque
sim (alerta spoiler), a avó moldou a situação odiosa e tenebrosa em que os personagens se
encontram durante o filme.


De acordo com Michel Foucault, filósofo francês “Precisamos resolver nossos monstros
secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta” .
Todos temos monstros secretos e que se não resolvidos internamente (faça terapia!) tornamse a motivação perfeita para o abuso, o crime, a morte…
É difícil não se lembrar de Kevin Spacey no thriller, Seven, de David Fincher. Um homem capaz
de matar para “cumprir” sua missão. Ou do perturbado Buffalo Bill em O Silêncio dos
inocentes, com suas questões de sexualidade e auto-aceitação.
Quanto mais humanos, mais monstruosos.
O cinema de terror contemporâneo traz algo novo ao entender que personagens puramente
humanos podem ser ainda mais assustadores e odiosos.
Devo acrescentar que o grande êxito da nova geração não é tentar reformular o cinema de
terror, mas sim ampliar e fundir os elementos clássicos com o frescor de temas atuais e
pulsantes.
Hora de colocar a pipoca pra estourar e escolher o seu filme para curtir o mês mais assustador
de todos!

Priscilla Thevenet é jornalista, especialista em marketing e eventos, diretora da agência Psique Criação. Apaixonada por cultura e cinema, sendo responsável pelo evento mensal “No escurinho do cinema” e pela Feira do Livro de Juiz de Fora – FLIJUF.

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