O Brasil tem capacidade  de ser autossuficiente na produção de fertilizantes?

Ciência De tudo um pouco - Por José Roberto Abramo

29/07/2023

Especialistas comentam que a questão tem sido tratada de forma inadequada nas últimas décadas no Brasil

11/03/2022 – Publicado há 1 ano

Por Cinderela Caldeira e Luiz Roberto Serrano

Publicado Originalmente no JORNAL DA USP

Em 2021, o agronegócio brasileiro exportou US$ 120,59 bilhões, responsabilizando-se por nada menos do que 40,6% das vendas externas do País. Mais um resultado que consolidou a imagem do Brasil como potencial celeiro do mundo. Neste início de 2022, contudo, o agronegócio, um dos alicerces do nosso PIB, deparou-se com um obstáculo imprevisto, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que está desorganizando inúmeras cadeias de comercialização globais, especialmente a de fertilizantes, da qual a agricultura brasileira é excessivamente dependente.

Em uma de suas edições recentes, a revista Exame traçou o seguinte quadro: “O Brasil hoje importa 85% dos fertilizantes que consome para a sua agricultura. No ano passado, o País consumiu 43 milhões de toneladas de fertilizantes. As três principais cadeias – soja, milho e cana-de-açúcar – consumiram 73%. O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás dos Estados Unidos, da Índia e da China, e nós consumimos algo em torno de 8,5% a 9% de todo o produto no mundo. Só que esses outros três países são grandes produtores de fertilizantes, e o Brasil não“.

O obstáculo imprevisto faz com que o governo brasileiro corra atrás de alternativas que supram, a curto prazo, os fertilizantes tradicionalmente fornecidos pela Rússia e Belarus, mas também coloca duas questões: por que o Brasil se tornou tão dependente da importação de insumos para a sua produção agrícola, a coluna de sustentação de sua pauta de exportações; quais as possibilidades de modificação desse quadro de dependência de importações, a médio e longo prazos?

Jornal da USP discutiu esse tema com três especialistas da USP: Ildo Sauer, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), Paulo Sérgio Pavinato, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), e Mauro Osaki, pesquisador da área de custos agrícolas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq da USP, que concedeu entrevista para o programa Desafios.

Confira as entrevistas abaixo.

Ildo Sauer

Professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP

Ildo Sauer – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“A questão dos fertilizantes tem sido tratada de forma inadequada nas últimas décadas no Brasil. Basicamente trata-se de demanda de macronutrientes como fósforo, potássio e nitrogenados, mesanutrientes como enxofre, magnésio e cálcio, e micronutrientes como boro, zinco, bismuto, cobalto e outras coisas mais. O Brasil tem importado entre 75% e 85% dos fertilizantes. É preciso tratar separadamente os três macronutrientes. Primeiro, nitrogenados.”

“Uma parte relevante dos nitrogenados amônia e ureia era produzida pela Petrobras na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) de Sergipe e Bahia, usando gás natural, e por uma outra fábrica de fertilizantes, em Araucária, no Paraná, que usava um outro processo com resíduos de refinaria. As três foram fechadas há alguns anos pela decisão de olhar em um curto prazo a rentabilidade. De fato, não fazia muito sentido importar gás natural (…), reagaseifica-lo para depois convertê-lo em amônia e ureia, quando seria mais barato importar o gás via GNL, importar amônia diretamente.”

Áudio de Ido Sauer

Paulo Sérgio Pavinato

Professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

Paulo Sérgio Pavinato – Foto: World Food Forum

“Há possibilidade sim, de expansão, mas não em curto prazo. Imagina-se aí que, com investimentos pesados dentro de 6 a 8 anos, o Brasil poderia ser quase que autossuficiente em produção de nitrogenados, produzir quase todo o fosfatado e produzir uma boa parte do potássio que demanda, mas, pelas projeções e pela política que temos no Brasil, a possibilidade de isso ocorrer é pequena.”

“Há necessidade política governamental para que isso ocorra e também negociações com as empresas das grandes commodities das grandes empresas internacionais que estão atuando no mercado de fertilizantes no Brasil.”

“Acreditamos que vamos continuar dependentes externos ainda de fertilizantes por um bom tempo, e o mercado que se caracteriza agora, nessa situação atual, está bem complicado né, nós tendemos a ter um aumento no preço dos fertilizantes porque não vai haver oferta no mercado.”

Áudio de Paulo Sérgio Pavinato

O jornalista Luiz Roberto Serrano, no programa Desafios, conversou com Mauro Osaki, pesquisador da área de custos agrícolas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, sobre o Brasil e sua dependência da importação de fertilizantes. O Brasil tem condições de se tornar independente na produção de fertilizantes?

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