O Touro e as políticas ESG

Crônicas - Por José Roberto Abramo

27/11/2021

ublicado sob permissão de Victor Hugo Moreira*

E no final, o “Touro de Ouro” foi retirado da praça em frente a B3 no centro de São Paulo. E este tema tem tudo a ver com a pauta ESG e empresas que dizem ter esta abordagem.

Digo isto pela mudança de pensamento que a pauta ESG traz consigo.

Até pouco tempo, se pensava que as empresas produtivas existiam para dar lucro. Quanto maior o Compliance e maior os controles sobre riscos, custos e reputação, maior seria o valor econômico adicionado.

Algumas empresas focavam, também, em retribuir para sociedade, em regra, através de um braço filantrópico da companhia que focava em caridade (Fundação, Associação ou ONG). Neste sentido, a empresa adicionava valor social a companhia seja doando produtos e serviços, fazendo filantropia e estimulando o time a fazer trabalhos voluntários.

Esta abordagem era direcionada pelo mercado. Nesta linha, o mercado define o preço e transações, determina a aplicação dos recursos e defende que é capaz de trazer benefícios para a sociedade e construção da prosperidade. O meio ambiente, nesta abordagem, praticamente não é considerado como elemento de decisão. É apenas uma ferramenta para os objetivos do mercado e, por fim, da sociedade.

Outra abordagem vem mudando o jogo. ONG´s como The Natural Steps vem defendendo e provando que os 3 elementos (Ambiente, Sociedade e Mercado) são interdependentes nos processos decisórios da companhia, sendo que o meio ambiente é o mais importante, em seguida as questões da sociedade e, por fim, as demandas do mercado.

O fato é que os negócios são parte do problema social e, portanto, devem compor a solução, também.

Ora. Cada vez mais, as empresas, em especial aquelas com destaque, devem pensar um estratégia que combina o seu ativo corporativo único com outras empresas e co-criar soluções para questões econômicas, ambientais e sociais complexas e solucionáveis que afetam a sustentabilidade dos negócios e da sociedade.

Em função desta mudança de abordagem que a idéia do “Touro de Ouro” em si e tudo que isso representa não é ruim, só não está alinhado com os aspectos ambientais e, principalmente, sociais que são prioridade neste momento.

No aspecto ambiental, o centro de São Paulo, com alto valor histórico, está degradado e sujo, diversos comércios de portas fechadas em função dos problemas econômicos e da COVID e, de repente, é colocado uma estátua de OURO, sem nenhuma integração e aderência ao ambiente. Simplesmente foi colocado, sem nenhum planejamento prévio e autorização dos órgãos que cuidam da zeladoria da cidade.

No aspecto social, basta dar uma volta nas redondezas. Ali perto, na praça da Catedral da Sé, há um acampamento de pessoas sem lar e que dependem de assistência para se alimentar. O desemprego no Brasil está nas alturas e estamos diante de uma nova crise econômica (sendo que a última nem terminou).

Considerando a abordagem dos três elementos, o mercado que patrocinou o tal do Toro de Ouro e tentou defender como naquela abordagem antiga: “A bolsa…. é um lugar onde as empresas captam recursos para que possam ampliar seus negócios, gerando emprego, renda para população, pagamento de impostos para o estado, e trazendo inovação para sociedade”. E é isso mesmo. O problema é que os benefícios que o mercado diz trazer ainda não foram sentidos pela maior parte da população, o momento econômico-social não é dos melhores e, portanto, não há absurdo algum a sociedade decidir pela retirada do Touro.

E mais. Tudo isto teria menos relevância se as empresas que patrocinaram o Touro não estivessem publicamente defendendo a abordagem ESG.

Antes de ser uma excelente ferramenta de captação de recursos via mercado de capitais, ter uma abordagem ESG é estar disposto a mudar o mindset e não achar que a razão de ser de uma empresa é gerar lucro aos acionistas.

 

Uma abordagem ESG requer pensar os problemas sociais como parte integrante das estratégias da empresa, no qual tem ciência que o meio ambiente é escasso, que os recursos naturais devem ser preservados em pró do futuro da humanidade e que a sociedade não vai mais consumir soluções de empresas que não se preocupam com estes aspectos e que ignoram completamente os problemas sociais que acontecem ao lado.

Absurdo é defender um Touro de Ouro numa praça, sendo que na praça ao lado há pessoas vivendo de maneira desumana.

Resolvemos isso, depois voltamos com o touro…

Victor Hugo Moreira

Sócio – Nóvoa, Braga e Ramos | Advocacia – Período do emprego, março. de 2016 – o momento. Escritório com quase 30 anos de história, reconhecido pela ética e competência, face os êxitos e a atenção investida aos seus clientes e processos.

Presidente do Comitê Estratégico Jurídico de Salvador – Amcham-Brasil
Período do emprego, janeiro de 2020 – o momento – Duração1 ano 11 meses
LocalidadeSalvador e Região, Brasil

Outros artigos e perfil:

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