Quatro parágrafos, um teatro.

Curiosidades - Por

10/04/2015

Lembro exatamente quando foi a primeira vez que vi o Cine-Theatro Central.  Pensei, quase que alto, “ahhh, então é aqui!”. Algo tão comum, tão diário, tão silencioso e estático para quem cruza sua fachada goiaba desde que se entende por gente e raramente se lembra quando foi o primeiro encontro com aquele colosso. Mas, para mim, uma descoberta discreta e recente, coisa que os universitários radicados nesse canto de Minas, sabem bem.

É aquela construção gigante que encontrou espaço no coração de concreto dessa cidade. Um grandalhão que ocupa muito bem seu lugar. Encanta, intriga e maravilha quem passa por lá sempre, às vezes ou quase nunca. Detalhes que não passam despercebidos pelos olhos mais atentos. O estilo art déco, uma marquise baixinha com letras garrafais e janelas simétricas mais acima. Feche os olhos, vê o mesmo que eu? É automático.  Por dentro, aquele brinde de cores, formas, um palco que parece te engolir, luzes ora fracas, ora estonteantes e, claro, história, muita história.

Talvez, o Cine-Theatro Central, em seus 86 anos, seja o ícone mor do entretenimento na cidade. Não só pelo que ele é hoje, mas pelo que já foi. E o que é mais honroso para um senhor quase centenário do que se lembrar dos tempos de glória? E mais do que isso, saber da sua importância para a cultura de uma cidade que tem impregnada na tradição, a mania do pioneirismo. Juiz de Fora, que foi chamada de “Farol do Continente” pela construção da Usina de Marmelos é a cidade que com o projeto de Rafael Arcuri, construiu um dos maiores teatros do Brasil, à altura da sua proeminente economia e política, na década de 30. As pinturas de Ângelo Bigi dão um ar classicista e romântico ao teto que parece não ter um limite, é como um céu.

Entrar no Cine-Theatro e lembrar um pouco de sua história é enxergar o poder da arte e vê-la encarnada minutos depois. Conhecer os novos ângulos do teatro, por dentro e por fora, é uma atividade que permite avaliar o poder da arquitetura, essa imperatriz irredutível do olhar disperso – sempre que estou em algum edifício no centro tento localizá-lo, como um dever sagrado. Perceber suas linhas, seus sons ecoantes pela noite, quando andando no calçadão, é perceber o domínio – educado e sutil – que ícones do nosso cotidiano exercem sobre nós. Contemplar a importância de um lugar tão incrível e ter ciência de sua raridade faz-nos parar o passo apressado e, aliviados dizer: ainda bem!

Matheus

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