Sororidade: por que ela é importante?

Somas JF Sororidade

Cidade Comportamento Representatividade - Por Caroline Ferreira

04/02/2020

Sororidade (subs. fem): relação de união, irmandade, afeto e amizade entre as mulheres. União de mulheres que compartilham os mesmos ideais e propósitos, normalmente de teor feminista.

 

Nós mulheres, já tivemos o sentimento de, muitas vezes, nos sentirmos rivais umas das outras. Como se sentir menor ou “feia” por que a atriz da novela das 9h aparece na TV linda e você não se sente a altura, comparações com a sua prima, irmã, desafetos… E muitas outras questões.

Até uma mulher que tenha sofrido algum tipo de violência, já ouvimos a seguinte frase. “Ela pediu, estava sozinha a noite com roupa curta, mereceu mesmo.” Essas frases muitas vezes são ditas por outra mulher.

Felizmente, esta e muitas outras falas, têm perdido espaço com a “sororidade”. O termo surgiu a partir da quarta onda do feminismo, período em que vivemos hoje, o que é fruto de muito esforço construído ao longo de quase 100 anos. No entanto, até hoje, não é fácil debater a questão de gênero pois ainda há um desconforto geral.

De acordo com pesquisa realizada pelas Nações Unidas (ONU) 81% dos homens concordam que existe muito machismo; 87%, acreditam que o machismo é ruim para homens e mulheres; mas apenas 3% se consideram bastante machistas e 23% se consideram nada machistas.

Porém, não é isso que percebemos na nossa rotina feminina. Esses 3% tiveram a coragem de admitir o que a maioria pensa. Por isso a sororidade se torna mais importante a cada dia. A internet tem facilitado com que a união entre as mulheres aconteça, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas a gente aqui do Vai Ali, listamos iniciativas, na vida real, e na ficção, que são exemplos do que a sororidade na prática pode realizar a favor das mulheres.

Da vida real para a ficção

ESTE POST CONTÉM SPOILERS, mas vale a leitura!

Greys Anatomy  | temporada 15 | episódio 19

Este é um dos episódios mais impactantes da temporada. Uma das personagens de nome Jo, escondeu uma gravidez por sete semanas. Porém ninguém ficou sabendo da gravidez, pois Jo abortou. O motivo do aborto, revelado por Jo é surpreendente: Jo estava grávida quando teve suas costelas quebradas por conta de uma agressão do marido.

O episódio ainda teve um caso de uma paciente que passou por uma situação parecida de abuso no hospital, e foi atendida por Jo que lhe deu todo o suporte. Os fãs ficaram impactados com as declarações da personagem, e exaltaram ela nas redes sociais. Além disso, é um episódio divisor de águas para a personagem.

Para o atendimento dessa personagem, todas as funcionárias do hospital formaram um corredor em apoio a atendida que tinha sofrido a agressão.

Greys Anatomy sororidade

 

Sex Education | temporada 2 | episódio 7

Aimee, na detenção com Maeve, Ola, Lily, Olivia e Viv, começam a conversar sobre questões que elas enfrentam em sua rotina. Aimee vê ali um lugar confortável para se abrir e conta que sofreu abuso sexual no ônibus, quando um desconhecido se masturbou e ejaculou na sua perna.

Todas as outras garotas, então, compartilham suas próprias histórias de abuso: uma foi perseguida enquanto voltava para casa, uma foi apalpada enquanto descia do metrô, e outra foi, ainda criança, alvo de um homem que resolveu exibir seu pênis em uma piscina pública.

No fim das contas, as seis garotas se reúnem para ajudar Aimee a superar o receio de andar no ônibus e se sentam com ela no caminho para a escola.

Sororidade - Sex Education

 

Anne with an E | Temporada 3 | Episódio 6

Essa série todos sabemos que é uma das séries que mais tem elementos de feminismo que a gente já viu. Ambientada no século XIX, conta a vida de Anne, uma garotinha orfã que é mandada para morar com uma solteirona e seu irmão.

Anne é toda progressista e sempre demonstra atitudes que estão em consonância com a sororidade. Um exemplo claro disso, é no episódio seis que Josie é assediada por Billy em uma festa. Josie se sente extremamente coagida com a atitude de Billy, mas ele espalha o boato de que ela foi a causadora do assédio e, como ele mesmo diz na série “ela não conseguiu aguentar até o casamento”.

Anne, vendo o desconforto da amiga, fica extremamente incomodada com a questão, e vai tirar satisfações com Billy. Porém ele a trata com desdém, e ele é visto como o certo da situação. Durante a série, essa atitude de Anne acarreta dificuldades para a vítima do assédio, mas posteriormente ela entende que o que Anne fez foi para o seu melhor.

Na sociedade em que Anne vive, a sororidade não é comum. Anne por ter essas atitudes é sempre tida como a “estranha”. Talvez, se Anne vivesse nos tempos atuais, ela seria a precursora de iniciativas que dessem as mulheres igual de direitos, repeito e visibilidade. Como algumas iniciativas que vamos citar aqui!

Sororidade Anne with an E

A sororidade na vida real

Meia Cinco Dez – 65/10

Voltada para o setor publicitário, a Meia Cinco Dez estuda a mudança de comportamento feminino durante as décadas e como os movimento sociais influenciaram nessas mudanças. Diante disso, o grupo presta consultorias as empresas a fim de mudar o padrão que é exigido da mulher no meio publicitário.

O grupo desenvolve ainda ações com uma das maiores redes sociais do mundo, Facebook, para modificar este padrão publicitário. A “Ads4equality” reúne dados referente a representação feminina nas campanhas publicitárias. Esses dados são disponibilizados de forma gratuita. A partir daí, seu público alvo, empresários, mensura o impacto de representação nas suas campanhas.

De acordo com o grupo, cerca de 65% das mulheres não se sentem representadas pelas marcas nas publicidades.

65/10 - Sororidade

Somas – Somos Todas Uma @somasjf

De acordo com a idealizadora, Luíza Miguel, o projeto nasceu com o objetivo de compartilhar conhecimento entre mulheres.”Somos seres sociais e culturais. E esse todo nos influencia o tempo inteiro. Assim como nós influenciamos esse todo. Somos seres em relação. Nossa intenção com os encontros é provocar mudanças nas relações cotidianas de cada uma.” Ainda de acordo com Luiza “o micro influencia o macro, que influencia o micro.”

Inicialmente o grupo começou pequeno. “Os primeiros encontros foram em rodas de conversa gratuita entre mulheres para conversar sobre questões que nos atravessam”, como viver e lidar com as questões que a sociedade impõe às mulheres.

Essas rodas também são como um espaço de conversa e desabafo. “Nas rodas nós deixamos claro que aquele é um espaço que a mulher está segura e livre para dizer as questões que ela enfrenta na sua rotina, e ainda essas questões não saem daquele espaço”.

Essas rodas de conversas têm como objetivo encorajar mulheres a influenciar os núcleos em que elas estão inseridas: como trabalho, família, bairro; para que a sociedade seja modificada. Falamos de diversos temas como dinheiro, sexualidade, família e muitos outros.

O prazer feminino também é pauta. Luíza comenta que há uma estimativa de que 30% das mulheres no mundo nunca chegaram ao orgasmo. Isso influencia diretamente o seu corpo e seu lugar de poder e potência. “O orgasmo feminino na minha opinião, é um ato político. Pra mim, ele influencia na forma como a mulher se coloca e sua relação no/com o mundo.”

O grupo ainda oferece informação para gestantes com o projeto “Somas uma a uma na vila”. Desde o parto, até a amamentação, o grupo trata de questões tidas como tabu hoje em dia na sociedade, como relação sexual depois da gravidez e muitas outras.

 

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Minha luz é de Led

No último fim de semana, o coletivo promoveu um evento pré carnaval protagonizado por mulheres. O “Minha luz é de led”. Original do Rio de Janeiro, o bloco ocorre desde 2014 no Rio de Janeiro e arrasta cerca de 45 mil pessoas pelas ruas cariocas.

Luíza comenta que a sociedade precisa se acostumar com o empoderamento feminino e à expansão feminina. “A gente precisa se sentir a vontade em expansão. A sociedade precisa se familiarizar com as mulheres em lugar de poder”.

Minha Luz é de Led Sororidade

Equipe organizadora do evento. Foto: Caroline Lagrimante

Movimento Mulher 360

Criado, em 2011, a partir de uma iniciativa privada.Em 2015, o Movimento ganhou força e se tornou uma associação independente sem fins lucrativos, formada a partir de grandes empresas do mercado nacional e internacional, comprometidas em promover a equidade de gênero e o aumento da participação feminina no ambiente corporativo, nas comunidades.

O Movimento promove em parceria com o Instituto Ethos, conscientização para a igualdade de gênero, alinhados com os sete princípios de empoderamento feminino estabelecidos pela ONU. Diante disso, o grupo oferece ferramentas para que as empresas avaliem seu desempenho quanto a essa questão e desenvolvam estratégias para que mudanças sejam geradas.

O que ainda nos falta?

Há ainda outras diversas iniciativas, coletivos, orientações que estabeleçam o lugar justo para as mulheres em meio a sociedade e, não há nenhuma outra pessoa que melhor possa exigir este lugar do que ela mesma. Luiza Miguel, comenta ainda que estas questões de sororidade são de extrema importância para que as mulheres compreendam seu valor e exijam seu local em sociedade.

“O movimento de expansão feminino causa tanto desconforto na sociedade, a ponto de dar origem a um golpe. Se for uma mulher inclusa em outras minorias, como negra, transsexual, o incomodo é ainda maior. Por isso é importante que nos unamos para chegar ao ideal em sociedade”, conclui.

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